Parece que uma nova tempestade ou, pelo menos, um vendaval se formou recentemente ao redor do termo "evangélico". Um número crescente daqueles que identificam como evangélicos está compreendendo que nem todos crêem nas mesmas coisas, nem mesmo em relação às doutrinas essenciais. Em resposta a isso, alguns começaram a escrever manifestos que tentam reafirmar as características de uma identidade evangélica. Outros estão escrevendo livros e realizando conferências que têm como alvo recentralizar o movimento como um todo. Outros decidiram que é melhor descartar o termo e chamar a si mesmos de "pós-evangélicos".
Esse problema não é novo. Nunca foi fácil determinar quem são os evangélicos, porque o evangelicalismo sempre foi um movimento diversificado. Lutero queria que seus seguidores fossem chamados de "evangélicos", significando pessoas do evangelho (foram os seus inimigos que apelidaram seus seguidores de "luteranos"). O outro braço da Reforma também se alegrava em compartilhar da designação evangélica (os luteranos ortodoxos cunharam o termo "calvinistas" como um modo de fazerem distinção entre seu próprio ponto de vista e opiniões reformadas sobre a Ceia do Senhor). Depois, com o advento do pietismo e do avivalismo, o rótulo "evangélico" tomou muitas direções. Hoje o termo é uma designação tão ambígua que alguns historiadores julgam que a melhor definição é a de George Marsden: "Qualquer pessoa que gosta de Billy Graham".
No entanto, com um pouco de perspectiva histórica, não é difícil perceber porque essas tempestades, ou vendavais, são constantes: o evangelho está se tornando para sempre separado dos evangélicos; essa é a razão por que é tão difícil saber quem são os evangélicos.
PIETISMO E AVIVALISMO
O termo "evangélico" entrou em uso comum durante a Reforma como um esforço para esclarecer e proclamar o evangelho. Anglicanos, presbiterianos e, no Continente, os seguidores de Bucer, Calvino, Knox e Beza também gostavam do termo "reformado" porque o seu objetivo não era começar uma nova igreja ou denominação, e sim reformar a igreja histórica. Além disso, as igrejas luteranas e reformadas, apesar de suas importantes diferenças, mantiveram-se lado a lado em defender o evangelho de distorções, tanto de Roma como dos anabatistas.
O advento do pietismo e do avivalismo complicou as coisas. A princípio, o pietismo era um movimento de reforma dentro das igrejas luteranas e reformadas, estimulando uma conexão mais profunda entre a doutrina e a piedade. Por fim, o pietismo começou a se parecer cada vez mais com a espiritualidade anabatista. O avivalismo (inglês e americano) também empurrou o pietismo para longe de suas raízes reformadas.
Um preço crucial de admissão ao arraial evangélico durante o Primeiro Grande Avivamento era ser pró-avivamento. Muitos ministros luteranos e reformados eram ambivalentes quanto à própria idéia de esperar tempos de avivamento, suspeitando que ele abrigava uma opinião inferior do ministério regular da igreja. Mas no Segundo Grande Avivamento não houve questionamentos. O foco mudou de uma ênfase na obra salvadora de Deus, em Cristo, por meios dos instrumentos ordenados por Deus, para uma ênfase nas decisões e esforços humanos, por meio de métodos e "estímulos" pragmáticos. O principal personagem por trás do segundo avivamento, Charles G. Finney (1792-1875), até rejeitava a doutrina do pecado original, da expiação vicária, da justificação somente pela fé e o caráter sobrenatural do novo nascimento.
O Segundo Grande Avivamento, representado por Finney, criou um sistema de fé e prática adequado a uma nação autoconfiante. O evangelicalismo – ou seja, o protestantismo americano do final do século XVIII – foi um instrumento para inovações. Na doutrina, serviu à preferência da modernidade quanto a uma confiança na natureza e no progresso humanos. Na adoração, transformou o ministério centrado na Palavra e nas ordenanças em entretenimento e reforma social, criando o primeiro sistema de estrelas na cultura de celebridades. Na vida pública, confundiu o reino de Cristo com o reino deste mundo e imaginou que o reino de Cristo poderia ser tornado visível por meio de atividades sociais, morais e políticas dos santos. Havia pouco espaço para qualquer coisa imporante que fosse capaz de restringir o movimento, disciplinar suas celebridades empresariais ou questionar seus "avivamentos", à parte de sua freqüente publicidade de curta duração.
Em algum ponto ao longo do caminho, o evangelho se tornou separado da evangelização; a mensagem ficou subserviente aos métodos. A religião americana se tornou digna da caracterização de Dietrich Bonhoeffer: "Protestantismo sem Reforma".[i]
"Encontros extremos", comentou B. B. Warfield, no final do século XIX, a respeito dos pietistas conservadores e dos racionalistas liberais. "Os pietistas e os racionalistas têm caçado juntos, em duplas, e abrandado as suas contendas juntos. Eles podem diferir quanto a por que estimam a teologia um traste e por que não querem que um futuro ministro desperdice seu tempo em obtê-la. Um ama tanto a Deus, e o outro o amam tão pouco, que não se preocupa em conhecê-lo".[ii]
Herman Bavinck, o colega holandês de Warfield, observou: "Movimentos poderosos, como aqueles que o pietismo fez surgir na Alemanha e que o metodismo desencadeou na Inglaterra e na América, todos eles tinham em comum o fato de que mudaram o centro de gravidade do objeto da religião para o sujeito da religião. A teologia seguiu esse caminho nos sistemas produzidos por Kant, Schleiermacher e suas escolas".[iii] A ala erudita do pietismo protestante na América tendeu a ser assimilada pelo modernismo, enquanto a sua ala fundamentalista produziu uma colheita sempre nova de jovens cínicos e iludidos que achavam a outra uma mera opinião atraente. No entanto, modernistas como Harry Emerson Fosdick e fundamentalistas como Bob Jones podiam citar Finney e seu legado com afeição.
A CORRENTE REFORMADA
Entretanto, a corrente reformada do evangelicalismo americano não havia se esgotado completamente. O Princeton Antigo foi uma fonte especialmente fecunda para renovação e defesa do legado do verdadeiro evangelicalismo. Luteranos como C. F. W. Walther, presbiterianos como Archibald Alexander, congregacionalistas como Timothy Dwight, episcopais como o bispo William White e batistas como Isaac Backus podiam reconhecer uma essência de convicções reformadas que tinham em comum contra a maré crescente de infidelidade. Muito proveito resultou (e ainda resulta) da cooperação evangélica no campo missionário, nos ministérios diaconais comuns e na erudição fiel.
Clérigos como Warfield e Hodge se consideravam evangélicos no sentido distintamente reformado e se esforçaram por trazer o protestantismo americano à harmonia com essa definição. Eles também eram firmemente comprometidos e envolvidos de modo pessoal com os amplos esforços missionários nos Estados Unidos e no exterior, e isso os colocava em constante comunhão e cooperação com outros evangélicos.
Apesar disso, Warfield começava a perceber que a tensão entre opiniões competidoras da identidade evangélica tornava mais difícil o permanecer como apoiador irrestrito da causa evangélica. Em 1920, certo número de evangélicos apresentou "um plano de união das igrejas evangélicas". Warfiel avaliou o "credo" desse plano, enquanto era estudado por presbiterianos, e observou que a nova confissão proposta "não contém nada que não seja crido pelos evangélicos", mas "não contém nada que não seja crido... pelos adeptos da Igreja de Roma". Ele escreveu:
Não há nada sobre a justificação pela fé neste credo. E isso significa que todos os ganhos obtidos naquele grande movimento religioso que chamamos de Reforma são lançados pela janela... Não há nada a respeito da expiação no sangue de Cristo neste credo. E isso significa que todo o ganho da longa busca medieval pela verdade é lançado sumariamente fora... Não há nada sobre o pecado e a graça neste credo... Não precisamos mais confessar nossos pecados; não precisamos reconhecer a existência de tal coisa. Precisamos crer no Espírito Santo somente como "guia e consolador" – os racionalistas não fazem o mesmo? E isso significa que todo o ganho que o mundo inteiro obteve dos intensos conflitos de Agostinho é lançado fora juntamente com as outras coisas... Também é verdade que os ganhos obtidos dos debates que ocuparam a primeira era da igreja cristã, por meio dos quais atingimos o entendimento das verdades fundamentais da Trindade e da deidade de Cristo, são lançados fora por este credo. Não há Trindade neste credo; não há deidade de Cristo – ou do Espírito Santo.[iv]
Se a justificação pela fé é o âmago do evangelho, Warfield questionou, como podem "os evangélicos" omiti-la de sua confissão de fé comum? Ele perguntou: "Este é o tipo de credo que o presbiterianismo do século XX acha suficiente como base para cooperação nas atividades evangelísticas? Então, ele pode prosseguir suas atividades evangelísticas sem o evangelho, pois este credo nega completamente o evangelho". De novo, o evangelho se separara dos evangélicos. "Comunhão é uma palavra excelente", concluiu Warfield, "e um grande dever. Mas a nossa comunhão, de acordo com Paulo, tem de ser no ‘progresso do evangelho’".[v]
O diagnóstico do cristianismo americano oferecido por Dietrich Bonhoeffer ("Protestantismo sem Reforma"), depois de sua viagem para preleções nos Estados Unidos, parece vindicado. Ele escreveu:
Deus não tem dado qualquer reforma ao cristianismo americano. Ele lhe deu fortes pregadores avivalistas, clérigos e teólogos, mas nenhuma reforma da igreja de Jesus Cristo por meio da Palavra de Deus... A teologia americana e a igreja americana como um todo não têm sido capazes de entender o significado do "cristicismo" pela Palavra de Deus e de tudo que isso significa. Eles não entendem que o "criticismo" de Deus toca até a religião, a cristandade da igreja e a santificação dos cristãos e que Deus fundou a sua igreja acima da religião e da ética... Na teologia americana, o cristianismo é essencialmente religião e ética... Por causa disso, a pessoa e a obra de Cristo foram, quanto à teologia, colocados em segundo plano e permanecem mal entendidos, porque não são reconhecidos como o único fundamento do juízo radical e do perdão radical".[vi]
ONDE ESTÁ O EVANGELICALISMO HOJE?
Hoje, alguns dos maus frutos do pietismo e do avivalismo subsistem. Muitos têm por certo que aqueles são muito interessados em doutrina são os que menos se interessam por alcançar o perdido (ou, como se diz hoje, "os sem-igreja"). Os evangélicos são freqüentemente desafiados a escolher entre tradicional e missional, dois campos que são descritos tipicamente como nada mais do que caricaturas. Os primeiros evangélicos se reuniam, simultaneamente, ao redor de manter o evangelho correto e de anunciá-lo, mas hoje a coalizão é definida, cada vez mais, por seu estilo ("contemporâneo" versus "tradicional"), sua política ("conservadorismo compassivo" ou a mais nova redescoberta de raízes progressistas avivalistas) e suas principais estrelas musicais, e não por suas convicções a respeito de Deus, da humanidade, da salvação, do propósito da história e do julgamento final.
Entendo que nem todos esses "credos" são hoje tão minimalísticos como aquele que Warfield avaliou. E o evangelicalismo americano não tem permanecido sem os seus defensores da fé. Em sua declaração de fé, a Associação Nacional de Evangélicos afirma a Trindade, a deidade de Cristo, "a morte vicária e expiatória, por meio do derramamento do sangue de Cristo", e a necessidade de renascimento espiritual. Contudo, ali não há nenhuma menção da justificação – o artigo sobre o qual uma igreja se mantém de pé ou cai –, e a única convicção concernente à igreja é a crença em "uma unidade espiritual de crentes no Senhor Jesus Cristo". O batismo e a Ceia do Senhor não são nem mencionados.
Ironicamente, a genuína fé evangélica se encontra com freqüência fora do movimento evangélico e dentro do evangelicalismo ela é contestada em muitas frentes. Tem se tornado cada vez mais comum os evangélicos questionarem a autoridade (e não menos a suficiência) da Escritura e as doutrinas básicas em torno das quais evangélicos de diferentes segmentos eram capazes de se unir. De acordo com cada grande pesquisa que tenho visto, a maioria dos evangélicos americanos desconhece muitas das verdades básicas do cristianismo. Em vez disso, há um amplo "deísmo moralista e terapêutico", como comprovou o sociólogo Christian Smith. O fato de que pessoas que crescem em igrejas evangélicas provavelmente – e, em alguns estudos, mais provavelmente – aceitarão esse tipo de espiritualidade amorfa, deixando de lado os credos cristãos, pode fazer você perguntar o que há de "evangélico" no "evangelicalismo". O evangelho abandonou os evangélicos?
Ao mesmo tempo, encontramos freqüentemente cativantes defesas do cristianismo histórico, incluindo as percepções da Reforma, procedentes daquelas que poderiam parecer as fontes mais improváveis.
UM PARQUE TRANQÜILO
Por tudo isso, ainda estou convencido de que há um lugar para sermos "evangélicos". Por quê? Em palavras simples, porque ainda temos o evangelho. Em minha opinião, o evangelicalismo serve melhor como um parque tranqüilo, à semelhança dos parques públicos no centro das cidades da antiga Nova Inglaterra, para todos os que afirmam este evangelho. É um lugar em que os cristãos de igrejas diferentes se encontram para discutir o que têm em comum, bem como as suas diferenças. Ajudam um ao outro a se manterem honestos.
Em sua fase presente, a igreja é um povo peregrino. Acho que a confissão reformada é o mais fiel resumo dos ensinos da Bíblia. Contudo, a minha fé é fortalecida por encontrar-me com cristãos de tradições diferentes que me desafiam a pensar mais profunda e completamente a respeito das ênfases que tenho perdido.
Esse lugar tranqüilo também provê uma área comum na qual os cristãos podem testemunhar aos não-cristãos a esperança que compartilham e um espaço comum no qual nossos vizinhos de determinada comunidade podem ser servidos pelo amor cristão. O perigo surge quando o parque se torna dominado por uma atmosfera quase pelagiana e, confiando em si mesmo, imagina que sua Grande Tenda é a catedral que reduz as igrejas ali estabelecidas a simples capel
[i] Dietrich Bonhoeffer, "Protestantism without Reformation", em No Rusty Swords: Letters, Lectures and Notes, 1928-1936, ed. Edwin H. Robertson, trad. Edwin H. Robertson e John Bowden (London: Collins, 1965), p. 92-118.
[ii] B. B. Warfield, "Our Seminary Curriculum", em Selected Shorter Writings of Benjamin B. Warfield – I, ed. John E. Meeter (Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970), p. 371.
[iii] Herman Bavinck, Reformed Dogmatics: Vol. 3: Sin and Salvation in Christ, ed. John Bolt, trad. John Vriend (Grand Rapids: Baker Academic, 2006), p. 556.
[iv] B. B. Warfield, "In Behalf of Evangelical Religion", em Selected Shorter Writings of Benjamin B. Warfield – I, ed. John E. Meeter (Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970), p. 386.
[v] Ibid., p. 387.
[vi] Dietrich Bonhoeffer, op. cit.
Radio Nexus Sports
terça-feira, 2 de março de 2010
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Você Tem Somente uma Vida Preciosa
Você Tem Somente uma Vida Preciosa
John Piper
A Televisão é uma Parte Imensa Dessa Vida?
Se todas as variáveis são iguais, a sua capacidade de conhecer a Deus talvez diminuirá profundamente em proporção a quanto tempo você assiste à televisão. Há várias razões para isto. Uma das razões é que a televisão reflete nossa cultura em sua maior trivialidade. E uma dieta permanente de trivialidade arruína a alma. Você se acostuma com ela. Começa parecendo normal. Aquilo que é tolo se torna divertido. E o divertido se torna agradável. E o agradável se torna satisfatório à alma. E, no final, a alma que é criada para Deus, desceu ao ponto de satisfazer-se comodamente em trivialidades.
Talvez isto não seja percebido, porque, se tudo o que você conhece é a nossa cultura, não pode perceber que há alguma coisa errada. Quando se lê apenas revistas em quadrinhos, não é de se estranhar que não haja qualquer boa literaturaem casa. Quem vive onde não há estações, não sente saudades das cores do outono. Quem assiste a cinqüenta comerciais de televisão, todas as noites, talvez esqueça que existe uma coisa chamada sabedoria. Na maior parte de sua programação, a televisão é trivial. Raramente ela inspira grandes pensamentos ou fortes sentimentos com vislumbres de grandes verdades. Deus é a Realidade absoluta e suprema, que modela todas as coisas. Se Ele obtém algum tempo de transmissão, é tratado como uma opinião. Não há reverência. Não há tremor. Deus e tudo que Ele pensa a respeito do mundo está ausente da televisão. Alienadas de Deus, todas as coisas se encaminham a ruína.
Pense em quão nova é a televisão. Nestes 2.000 anos de história desde a vinda de Cristo, a televisão tem moldado apenas os últimos 2,5% dessa história. Nos outros 97,5% do tempo desde a vinda de Jesus, não havia televisão. E, durante 95% desse tempo, não havia rádio. O rádio entrou em cena no início dos anos 1900. Portanto, durante 1.900 anos de história cristã, as pessoas gastaram seu tempo livre fazendo outras coisas. Perguntamos a nós mesmos: o que elas fizeram? Talvez liam mais. Ou conversavam mais sobre as coisas. Com certeza, elas não foram bombardeadas com trivialidades prejudiciais à alma, transmitidas durante todo o dia.
Você já perguntou: “O que poderíamos fazer que é realmente de valor, se não assistíssemos a televisão?” Observe: não estamos refletindo apenas sobre o que a televisão nos faz com seus rios de vacuidade, mas também sobre o que ela nos impede de fazer. Por que você não faz uma experiência? Faça uma lista do que você poderia realizar, se usasse o tempo que gasta assistindo a televisão e o dedicasse a outra coisa. Por exemplo:
1. Você poderia ser inspirado a uma grande realização por aprender sobre a vida de Amy Carmichael, uma mulher nobre e piedosa, e sobre a coragem dela ao servir sozinha às crianças da Índia. De onde vêm esses sonhos radicais? Não vêm de assistirmos à televisão. Abra sua alma para que ela seja dilatada por meio de uma indescritível vida de consagração a uma grande causa.
2. Você poderia ser inspirado pela biografia de um homem de negócios, ou de um médico, ou de uma enfermeira, para obter a habilidade de abençoar outros com a excelência de uma profissão dedicada a um alvo mais elevado do que qualquer coisa que a televisão recomenda sem jamais incluir a Jesus.
3. Poderia memorizar o oitavo capítulo da Carta aos Romanos e penetrar nas profundezas da percepção de Paulo quanto à pessoa de Deus. E, ainda, descobrir o precioso poder da memorização das Escrituras em sua vida e seu ministério. Ninguém pode avaliar o poder que viria a uma igreja, se todos os seus membros desligassem a televisão por um mês e dedicassem o mesmo tempo à memorização das Escrituras.
4. Poderia escrever uma poesia simples ou uma carta para um parente, um filho, um amigo ou um colega, expressando profunda gratidão pela vida deles ou anelos em relação a alma deles.
5. Poderia fazer um bolo ou um prato especial para os vizinhos e entregá-lo com um sorriso e um convite de virem à sua casa, para se conhecerem mutuamente.
Portanto, existem muitas razões para se tentar um jejum de televisão ou simplesmente afastarmo-nos dela por completo. Não temos possuído um aparelho de televisão por trinta e quatro anos, exceto por três anos, quando estivemos na Alemanha e o usamos para aprender o idioma. Não existe virtude inerente nisto. Menciono-o apenas para provar que podemos criar cinco filhos sensíveis à cultura e informados biblicamente sem a televisão. Eles nunca se queixaram disso. Na verdade, freqüentemente se admiram com o fato de que pessoas conseguem encontrar tanto tempo para assistirem a televisão.
John Piper
A Televisão é uma Parte Imensa Dessa Vida?
Se todas as variáveis são iguais, a sua capacidade de conhecer a Deus talvez diminuirá profundamente em proporção a quanto tempo você assiste à televisão. Há várias razões para isto. Uma das razões é que a televisão reflete nossa cultura em sua maior trivialidade. E uma dieta permanente de trivialidade arruína a alma. Você se acostuma com ela. Começa parecendo normal. Aquilo que é tolo se torna divertido. E o divertido se torna agradável. E o agradável se torna satisfatório à alma. E, no final, a alma que é criada para Deus, desceu ao ponto de satisfazer-se comodamente em trivialidades.
Talvez isto não seja percebido, porque, se tudo o que você conhece é a nossa cultura, não pode perceber que há alguma coisa errada. Quando se lê apenas revistas em quadrinhos, não é de se estranhar que não haja qualquer boa literaturaem casa. Quem vive onde não há estações, não sente saudades das cores do outono. Quem assiste a cinqüenta comerciais de televisão, todas as noites, talvez esqueça que existe uma coisa chamada sabedoria. Na maior parte de sua programação, a televisão é trivial. Raramente ela inspira grandes pensamentos ou fortes sentimentos com vislumbres de grandes verdades. Deus é a Realidade absoluta e suprema, que modela todas as coisas. Se Ele obtém algum tempo de transmissão, é tratado como uma opinião. Não há reverência. Não há tremor. Deus e tudo que Ele pensa a respeito do mundo está ausente da televisão. Alienadas de Deus, todas as coisas se encaminham a ruína.
Pense em quão nova é a televisão. Nestes 2.000 anos de história desde a vinda de Cristo, a televisão tem moldado apenas os últimos 2,5% dessa história. Nos outros 97,5% do tempo desde a vinda de Jesus, não havia televisão. E, durante 95% desse tempo, não havia rádio. O rádio entrou em cena no início dos anos 1900. Portanto, durante 1.900 anos de história cristã, as pessoas gastaram seu tempo livre fazendo outras coisas. Perguntamos a nós mesmos: o que elas fizeram? Talvez liam mais. Ou conversavam mais sobre as coisas. Com certeza, elas não foram bombardeadas com trivialidades prejudiciais à alma, transmitidas durante todo o dia.
Você já perguntou: “O que poderíamos fazer que é realmente de valor, se não assistíssemos a televisão?” Observe: não estamos refletindo apenas sobre o que a televisão nos faz com seus rios de vacuidade, mas também sobre o que ela nos impede de fazer. Por que você não faz uma experiência? Faça uma lista do que você poderia realizar, se usasse o tempo que gasta assistindo a televisão e o dedicasse a outra coisa. Por exemplo:
1. Você poderia ser inspirado a uma grande realização por aprender sobre a vida de Amy Carmichael, uma mulher nobre e piedosa, e sobre a coragem dela ao servir sozinha às crianças da Índia. De onde vêm esses sonhos radicais? Não vêm de assistirmos à televisão. Abra sua alma para que ela seja dilatada por meio de uma indescritível vida de consagração a uma grande causa.
2. Você poderia ser inspirado pela biografia de um homem de negócios, ou de um médico, ou de uma enfermeira, para obter a habilidade de abençoar outros com a excelência de uma profissão dedicada a um alvo mais elevado do que qualquer coisa que a televisão recomenda sem jamais incluir a Jesus.
3. Poderia memorizar o oitavo capítulo da Carta aos Romanos e penetrar nas profundezas da percepção de Paulo quanto à pessoa de Deus. E, ainda, descobrir o precioso poder da memorização das Escrituras em sua vida e seu ministério. Ninguém pode avaliar o poder que viria a uma igreja, se todos os seus membros desligassem a televisão por um mês e dedicassem o mesmo tempo à memorização das Escrituras.
4. Poderia escrever uma poesia simples ou uma carta para um parente, um filho, um amigo ou um colega, expressando profunda gratidão pela vida deles ou anelos em relação a alma deles.
5. Poderia fazer um bolo ou um prato especial para os vizinhos e entregá-lo com um sorriso e um convite de virem à sua casa, para se conhecerem mutuamente.
Portanto, existem muitas razões para se tentar um jejum de televisão ou simplesmente afastarmo-nos dela por completo. Não temos possuído um aparelho de televisão por trinta e quatro anos, exceto por três anos, quando estivemos na Alemanha e o usamos para aprender o idioma. Não existe virtude inerente nisto. Menciono-o apenas para provar que podemos criar cinco filhos sensíveis à cultura e informados biblicamente sem a televisão. Eles nunca se queixaram disso. Na verdade, freqüentemente se admiram com o fato de que pessoas conseguem encontrar tanto tempo para assistirem a televisão.
Unindo-se à Contra-Revolução Cristã
Unindo-se à Contra-Revolução Cristã
Albert Mohler Jr.
Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.
Através do séculos, os cristãos têm se deparado com esta pergunta inquietante: como devemos viver como cristãos em uma cultura secular? Essa pergunta atinge o âmago do discipulado cristão, do significado do evangelho e dos desafios da igreja neste século, assim como nos tempos anteriores.
Chamada do mundo como um “povo especial” e encarregada de ser sal e luz, em mundo rebelde, que está nas trevas, a igreja tem lutado perpetuamente com o mandamento de estar “no mundo” e não ser “do mundo”. Infelizmente, o mundo tem influenciado a igreja mais do que esta o tem influenciado.
A realidade de nossa vocação e o caráter revolucionário da fé cristã são mais evidentes no Sermão do Monte. Dirigindo-se aos seus discípulos, Jesus falou com franqueza e amabilidade, estabelecendo a norma do reino de Deus em meio a uma cultura rebelde e ímpia.
Os cristãos têm lutado com o significado do Sermão do Monte desde que aqueles primeiros discípulos ouviram o seu Senhor apresentar esses ensinos naquela colina pastoril. A dificuldade se resume nisso: há alguma maneira de escapar do significado evidente do sermão? Aqueles que cobiçam em seu coração cometem realmente adultério? Devemos mesmo arrancar os olhos que nos fazem tropeçar e cortar as mãos que pecam? Devemos sempre oferecer a outra face do rosto e andar a segunda milha, amar nossos inimigos e bendizer os que nos maldizem?
As palavras de Jesus penetram como o bisturi de um cirurgião até aos aspectos mais profundo do discipulado cristão. Vivemos dessa maneira?
Com toda a honestidade, a igreja não pode relegar o Sermão do Monte a uma época posterior, limitar sua aplicação aos primeiros discípulos e evadir-se de seus ensinos por meio de alegoria e de explicação infundada. À semelhança de litigantes à procura de brechas em um contrato, alguns cristãos têm se empenhado por achar uma maneira de abrandar o impacto do Sermão do Monte e estabelecer um modo de discipulado mais cômodo e fácil.
No entanto, por mais que o mudemos, não podemos escapar do Sermão do Monte, pois temos apenas um Senhor, e o sermão é a sua manifestação para a igreja, sua noiva e seu corpo.
O sermão deve ser entendido como um todo, e suas várias seções não devem ser removidas de seu contexto. Jesus começa com bênçãos — as Bem-Aventuranças —, passa aos imperativos morais e, depois, nos ensina a Oração do Pai Nosso e os aspectos do discipulado na igreja.
Jesus não estava transmitindo um novo legalismo. A salvação é sempre pela graça, e o Sermão do Monte não é um catálogo de qualidades morais que nos torna dignos da salvação. Jesus não substituiu o legalismo dos fariseus com outro legalismo. Em vez disso, ele estava estabelecendo a norma do reino de Deus e deixando clara a visão moral transformadora de cidadãos do reino dos redimidos.
Jesus não estava retratando um quadro vívido de uma realidade distante. Embora o reino não esteja em sua plenitude neste mundo, ele está em parte e em verdade por meio da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Nosso cumprimento dos imperativos morais e do estilo de vida proposto no Sermão do Monte é, como a própria salvação, uma questão de graça e não de fidelidade humana. Contudo, somos todos chamados e recebemos nossas ordens de marcha. Conforme comentou R. T. France: “O ensino do Sermão do Monte não é para ser admirado, e sim para ser obedecido”.
A igreja é, como John Stott a descreveu, a “contra-cultura” cristã de Deus. O Sermão do Monte é a chamada de Cristo a uma contra-revolução cristã. Nenhuma força da terra pode enfrentar a influência de discípulos cristãos que dão testemunho da salvação em Jesus Cristo e exibem um estilo de vida conveniente aos cidadãos do Reino.
É assim que os cristãos travam a guerra cultural. Não com armamentos, não com artilharia, não com espada, mas com o Espírito. As batalhas têm de ser travadas nos tribunais, nas escolas e no mercado de idéias. Todavia, elas são realizadas com o caráter, e não com coerção; com a verdade, e não com terrorismo. Os contra-revolucionários de Deus portam a marca do Cristo crucificado e ressurreto e guiam sua vida pelos preceitos do reino eterno.
O mundo nunca precisou tanto da contra-revolução cristã. Vivendo o Sermão do Monte, mostraremos ao mundo como viver de um modo diferente – um modo cuja única explicação é o senhorio incondicional de Jesus Cristo.
Albert Mohler Jr.
Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.
Através do séculos, os cristãos têm se deparado com esta pergunta inquietante: como devemos viver como cristãos em uma cultura secular? Essa pergunta atinge o âmago do discipulado cristão, do significado do evangelho e dos desafios da igreja neste século, assim como nos tempos anteriores.
Chamada do mundo como um “povo especial” e encarregada de ser sal e luz, em mundo rebelde, que está nas trevas, a igreja tem lutado perpetuamente com o mandamento de estar “no mundo” e não ser “do mundo”. Infelizmente, o mundo tem influenciado a igreja mais do que esta o tem influenciado.
A realidade de nossa vocação e o caráter revolucionário da fé cristã são mais evidentes no Sermão do Monte. Dirigindo-se aos seus discípulos, Jesus falou com franqueza e amabilidade, estabelecendo a norma do reino de Deus em meio a uma cultura rebelde e ímpia.
Os cristãos têm lutado com o significado do Sermão do Monte desde que aqueles primeiros discípulos ouviram o seu Senhor apresentar esses ensinos naquela colina pastoril. A dificuldade se resume nisso: há alguma maneira de escapar do significado evidente do sermão? Aqueles que cobiçam em seu coração cometem realmente adultério? Devemos mesmo arrancar os olhos que nos fazem tropeçar e cortar as mãos que pecam? Devemos sempre oferecer a outra face do rosto e andar a segunda milha, amar nossos inimigos e bendizer os que nos maldizem?
As palavras de Jesus penetram como o bisturi de um cirurgião até aos aspectos mais profundo do discipulado cristão. Vivemos dessa maneira?
Com toda a honestidade, a igreja não pode relegar o Sermão do Monte a uma época posterior, limitar sua aplicação aos primeiros discípulos e evadir-se de seus ensinos por meio de alegoria e de explicação infundada. À semelhança de litigantes à procura de brechas em um contrato, alguns cristãos têm se empenhado por achar uma maneira de abrandar o impacto do Sermão do Monte e estabelecer um modo de discipulado mais cômodo e fácil.
No entanto, por mais que o mudemos, não podemos escapar do Sermão do Monte, pois temos apenas um Senhor, e o sermão é a sua manifestação para a igreja, sua noiva e seu corpo.
O sermão deve ser entendido como um todo, e suas várias seções não devem ser removidas de seu contexto. Jesus começa com bênçãos — as Bem-Aventuranças —, passa aos imperativos morais e, depois, nos ensina a Oração do Pai Nosso e os aspectos do discipulado na igreja.
Jesus não estava transmitindo um novo legalismo. A salvação é sempre pela graça, e o Sermão do Monte não é um catálogo de qualidades morais que nos torna dignos da salvação. Jesus não substituiu o legalismo dos fariseus com outro legalismo. Em vez disso, ele estava estabelecendo a norma do reino de Deus e deixando clara a visão moral transformadora de cidadãos do reino dos redimidos.
Jesus não estava retratando um quadro vívido de uma realidade distante. Embora o reino não esteja em sua plenitude neste mundo, ele está em parte e em verdade por meio da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Nosso cumprimento dos imperativos morais e do estilo de vida proposto no Sermão do Monte é, como a própria salvação, uma questão de graça e não de fidelidade humana. Contudo, somos todos chamados e recebemos nossas ordens de marcha. Conforme comentou R. T. France: “O ensino do Sermão do Monte não é para ser admirado, e sim para ser obedecido”.
A igreja é, como John Stott a descreveu, a “contra-cultura” cristã de Deus. O Sermão do Monte é a chamada de Cristo a uma contra-revolução cristã. Nenhuma força da terra pode enfrentar a influência de discípulos cristãos que dão testemunho da salvação em Jesus Cristo e exibem um estilo de vida conveniente aos cidadãos do Reino.
É assim que os cristãos travam a guerra cultural. Não com armamentos, não com artilharia, não com espada, mas com o Espírito. As batalhas têm de ser travadas nos tribunais, nas escolas e no mercado de idéias. Todavia, elas são realizadas com o caráter, e não com coerção; com a verdade, e não com terrorismo. Os contra-revolucionários de Deus portam a marca do Cristo crucificado e ressurreto e guiam sua vida pelos preceitos do reino eterno.
O mundo nunca precisou tanto da contra-revolução cristã. Vivendo o Sermão do Monte, mostraremos ao mundo como viver de um modo diferente – um modo cuja única explicação é o senhorio incondicional de Jesus Cristo.
Pouco tempo e grande profundidade
O tempo de conversão deveria corresponder à maturidade espiritual. Verdade é que isto não acontece em muitos casos. O que vemos são muitos crentes, mesmo tendo vários anos de conversão, agindo de forma imatura. Também vemos o contrário, crentes com pouco tempo de conversão demonstrando maturidade sobremodo elevada.
A Bíblia nos mostra este fato, e talvez o exemplo mais marcante seja o do ladrão na cruz. Lucas 23.39-42 conta-nos que um dos ladrões que foram crucificados com Jesus blasfemava contra ele dizendo que se ele era o Cristo devia salvar-se a si mesmo e também a eles. O outro ladrão o repreendeu e deu um impressionante testemunho de conversão.
Somos tentados a pensar que este ladrão era bonzinho comparado ao outro que era mau. Achamos que a diferença entre os dois era algo que ambos já nutriam durante suas vidas. Um era mau e o outro não era tão mau assim, por isso na cruz um blasfemou e o outro demonstrou crer em Jesus.
A Bíblia, porém não nos permite este pensamento. Mateus 27.39-44 fala-nos que as pessoas que passavam por Jesus na hora da crucificação blasfemavam contra ele. Também os principais sacerdotes e escribas escarneciam de Jesus. O versículo 44 diz que os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele. Marcos 15.32 diz que os que com ele foram crucificados o insultavam. Portanto ambos os ladrões eram iguais. Um não era melhor do que o outro como somos tentados a pensar. Ambos eram maus.
Durante aquelas poucas horas da crucificação um deles foi transformado pela graça de Deus e passou a agir de forma diferente. Lucas nos fala com clareza sobre como aquele ladrão mudou.
A primeira atitude dele foi defender seu Salvador. Ele não aceitou que seu companheiro de cruz continuasse ofendendo a Jesus daquela forma e o repreendeu: Nem ao menos temes a Deus estando sob igual sentença? (v.40) O verdadeiro servo de Deus defende os interesses de Deus. Davi enfrentou Golias porque estava defendendo os interesses do Deus de Israel.
A segunda atitude dele foi demonstrar o conceito de justiça de Deus. Ele reconheceu que estava sendo crucificado porque merecera isto. Muitos quando estão em situações desagradáveis acham injusto que algo esteja acontecendo com elas. Perguntam o que fizeram para merecer aquilo. Aquele homem na cruz disse: Nós na verdade com justiça recebemos o castigo que os nossos atos merecem. (v.41) Estar pregado na cruz era uma situação dolorosa e vergonhosa, porém ele reconheceu que merecia aquilo. Quando alguém reconhece seu pecado sabe que tudo o que vier a acontecer com ele não pode ser injusto, visto ser ele um pecador que ofendeu a Deus.
A terceira atitude dele foi reconhecer que Jesus é inculpável. No mesmo verso 41 ele disse que Jesus não tinha feito mal algum. Momentos antes ele estava blasfemando e insultando Jesus, mas agora ele está defendendo a santidade, a pureza e a inculpabilidade de Jesus. Ele reconheceu: Eu sou pecador, Jesus é Santo.
A quarta atitude dele foi reconhecer o Senhorio de Jesus. Ele pediu humildemente a Jesus: Lembra-te de mim quando vieres no teu reino. (v.42) Ele não pediu que Jesus o tirasse daquela cruz, não pediu que Jesus o livrasse da dor que estava sentindo ou da vergonha pela qual estava passando. Somente pediu que Jesus lembrasse-se dele quando viesse em Seu reino. Muitos não querem que Jesus reine sobre suas vidas, orgulhosamente querem exercer o controle. Ele não somente reconheceu que Jesus é rei como humildemente pediu que Ele se lembrasse dele. Ele reconheceu algo que aquela multidão não havia reconhecido e que por isso estava crucificando Jesus: Ele é Rei, tem um reino e virá reinar neste mundo.
Jesus certamente surpreendeu aquele homem em sua resposta. Ele havia pedido algo para o futuro e Jesus lhe disse: Hoje estarás comigo no paraíso. (v.43) Antes de Jesus voltar para reinar ele estaria aguardando este grande dia no paraíso. Jesus deixou claro que aquele homem se tornara um verdadeiro servo Seu, e que toda a mudança demonstrada naquelas poucas horas foram verdadeiras e profundas. Aquele homem foi crente aqui neste mundo somente por aqueles instantes, mas sua vida espiritual foi extremamente profunda. Sua vida cristã neste mundo teve pouco tempo e grande profundidade.
A Bíblia nos mostra este fato, e talvez o exemplo mais marcante seja o do ladrão na cruz. Lucas 23.39-42 conta-nos que um dos ladrões que foram crucificados com Jesus blasfemava contra ele dizendo que se ele era o Cristo devia salvar-se a si mesmo e também a eles. O outro ladrão o repreendeu e deu um impressionante testemunho de conversão.
Somos tentados a pensar que este ladrão era bonzinho comparado ao outro que era mau. Achamos que a diferença entre os dois era algo que ambos já nutriam durante suas vidas. Um era mau e o outro não era tão mau assim, por isso na cruz um blasfemou e o outro demonstrou crer em Jesus.
A Bíblia, porém não nos permite este pensamento. Mateus 27.39-44 fala-nos que as pessoas que passavam por Jesus na hora da crucificação blasfemavam contra ele. Também os principais sacerdotes e escribas escarneciam de Jesus. O versículo 44 diz que os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele. Marcos 15.32 diz que os que com ele foram crucificados o insultavam. Portanto ambos os ladrões eram iguais. Um não era melhor do que o outro como somos tentados a pensar. Ambos eram maus.
Durante aquelas poucas horas da crucificação um deles foi transformado pela graça de Deus e passou a agir de forma diferente. Lucas nos fala com clareza sobre como aquele ladrão mudou.
A primeira atitude dele foi defender seu Salvador. Ele não aceitou que seu companheiro de cruz continuasse ofendendo a Jesus daquela forma e o repreendeu: Nem ao menos temes a Deus estando sob igual sentença? (v.40) O verdadeiro servo de Deus defende os interesses de Deus. Davi enfrentou Golias porque estava defendendo os interesses do Deus de Israel.
A segunda atitude dele foi demonstrar o conceito de justiça de Deus. Ele reconheceu que estava sendo crucificado porque merecera isto. Muitos quando estão em situações desagradáveis acham injusto que algo esteja acontecendo com elas. Perguntam o que fizeram para merecer aquilo. Aquele homem na cruz disse: Nós na verdade com justiça recebemos o castigo que os nossos atos merecem. (v.41) Estar pregado na cruz era uma situação dolorosa e vergonhosa, porém ele reconheceu que merecia aquilo. Quando alguém reconhece seu pecado sabe que tudo o que vier a acontecer com ele não pode ser injusto, visto ser ele um pecador que ofendeu a Deus.
A terceira atitude dele foi reconhecer que Jesus é inculpável. No mesmo verso 41 ele disse que Jesus não tinha feito mal algum. Momentos antes ele estava blasfemando e insultando Jesus, mas agora ele está defendendo a santidade, a pureza e a inculpabilidade de Jesus. Ele reconheceu: Eu sou pecador, Jesus é Santo.
A quarta atitude dele foi reconhecer o Senhorio de Jesus. Ele pediu humildemente a Jesus: Lembra-te de mim quando vieres no teu reino. (v.42) Ele não pediu que Jesus o tirasse daquela cruz, não pediu que Jesus o livrasse da dor que estava sentindo ou da vergonha pela qual estava passando. Somente pediu que Jesus lembrasse-se dele quando viesse em Seu reino. Muitos não querem que Jesus reine sobre suas vidas, orgulhosamente querem exercer o controle. Ele não somente reconheceu que Jesus é rei como humildemente pediu que Ele se lembrasse dele. Ele reconheceu algo que aquela multidão não havia reconhecido e que por isso estava crucificando Jesus: Ele é Rei, tem um reino e virá reinar neste mundo.
Jesus certamente surpreendeu aquele homem em sua resposta. Ele havia pedido algo para o futuro e Jesus lhe disse: Hoje estarás comigo no paraíso. (v.43) Antes de Jesus voltar para reinar ele estaria aguardando este grande dia no paraíso. Jesus deixou claro que aquele homem se tornara um verdadeiro servo Seu, e que toda a mudança demonstrada naquelas poucas horas foram verdadeiras e profundas. Aquele homem foi crente aqui neste mundo somente por aqueles instantes, mas sua vida espiritual foi extremamente profunda. Sua vida cristã neste mundo teve pouco tempo e grande profundidade.
Nossa Herança Espirital
Existem contextos diferentes nas cartas do Novo Testamento e estes devem nos desafiar a uma reflexão sobre nossa herança espiritual. Até onde uma pessoa convertida, de uma religião totalmente diferente dos princípios do cristianismo, espera encontrar algo totalmente diferente de sua herança espiritual? Como identificar esta herança em uma pessoa quem venha, por exemplo, do catolicismo romano e agora vive como membro de uma igreja evangélica?
Observemos um exemplo simples na carta aos Hebreus. Creio ser relevante dizer que este artigo não espera ser uma análise exegética ou crítica de autoria e forma destes livros que compõe o cânon. Dito isso, vamos adiante, apenas abrindo portas para os leitores continuarem sua jornada. O livro de Hebreus foi escrito provavelmente entre os anos de 64 d.C e 86 d.C1 e tinha como público alvo um grupo de judeus que haviam se convertido ao cristianismo.2 A carta não se preocupa com os fariseus, publicanos, saduceus ou qualquer outro grupo específico e sua possível influência na igreja. Várias questões teológicas surgem ao longo de toda carta, onde o autor percebe a necessidade de dialogar com a teologia do Antigo Testamento. O autor escreve a respeito de assuntos que não encontramos, com a mesma atenção, em outros lugares do Novo Testamento, tais como: o sacerdócio de Melquisedeque, o tabernáculo no deserto e o dia da expiação. Parece que a intenção do autor é escrever uma epistola que contemple ao mesmo tempo doutrina e exortação.3 Guthrie destaca que o autor conhecia muito bem seus leitores, sua história e situação. Ele sabia sobre o despojamento das suas propriedades (10.33-34) da generosidade daqueles irmãos (6.10) e conhecia o estado de mente atual deles (5.11ss.; 6.9ss.).4 O sacrifício e o sacerdócio de Jesus Cristo é destaque nos capítulos 7-10, mas o que chama atenção é quando o autor destaca a importância da comunhão na igreja e em suas atividades, ele escreve: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hb 10.25). Completando o quadro, o autor de hebreus discorre ainda sobre a questão da liderança e a necessidade dos novos cristãos em respeitá-la: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb 13.17).
Observem que estes dois assuntos, participação na igreja e respeito à liderança espiritual são características muito comuns no contexto da eclesiologia judaica. Quantas vezes encontramos no Antigo Testamento o abandono à comunhão com Deus e o questionamento dos judeus aos seus líderes espirituais? São muitas, como por exemplo: Moisés, Elias e Samuel.
Estas preocupações do autor de Hebreus não podem ser encontradas de maneira tão específica em outras cartas do Novo Testamento. Cada carta tem um contexto, e isso é obviamente gritante. Porque o contexto espiritual, a herança dos membros em cada comunidade difere uma da outra. Os leitores de hebreus são frutos de uma geração e cultura totalmente diferente dos irmãos que receberam a correspondência em Filipos, Colossos ou Éfeso.
Percebe-se, portanto, que a herança espiritual e o contexto cultural fazem muita diferença quando pensamos em uma comunhão dentro dos muros das igrejas. As pessoas que encontram, pela graça de Deus, o novo e vivo caminho (Hb 10.20) não estão desprovidas de uma herança litúrgica e doutrinária. Aqueles que experimentaram uma fé judaica sentirão a diferença litúrgica ritualística ortodoxa do judaísmo quanto comparado com o culto cristão. Os que vieram do catolicismo romano estarão ainda carregando em suas memórias vários elementos e vocabulários do romanismo. É comum encontrar evangélicos provenientes do catolicismo romano usando expressões como “nossa senhora”! Outros que tiveram uma fé anterior kardecista sentirão ainda a necessidade de “fazer algo” para ser salvo. Afinal sua fé anterior era voltada para os méritos, as boas obras.
Cabe ao pastor e a liderança da igreja identificar este universo pregresso e ensinar aquilo que Jesus Cristo afirmou: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24). Jesus sabia que para seguí-lo era e ainda é necessário abandonar o velho homem, suas crenças e valores sem Cristo e assumir uma nova jornada com a fé verdadeira e salvadora, com os valores e doutrinas do Deus triúno.
O autor da epístola aos Hebreus foi muito sábio ao identificar e tratar cada dúvida que a igreja estava vivendo. Com muita autoridade, seriedade e piedade amorosa percebe-se a maneira didática com que ele conduziu seu rebanho. Nossa igreja precisa de uma liderança que saiba identificar quais elementos são pressupostos hermenêuticos na expectativa e serviço dos membros da igreja. Tanto para aquelas características que eles querem distância, por não trazer uma memória positiva, quanto àqueles que eles desejam reproduzir por sentirem uma saudade litúrgica. Quem determina a forma e a essência da adoração é o nosso Senhor. “Deus é espírito; e importa que seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade” (João 4.24). Soli Deo Gloria!
Observemos um exemplo simples na carta aos Hebreus. Creio ser relevante dizer que este artigo não espera ser uma análise exegética ou crítica de autoria e forma destes livros que compõe o cânon. Dito isso, vamos adiante, apenas abrindo portas para os leitores continuarem sua jornada. O livro de Hebreus foi escrito provavelmente entre os anos de 64 d.C e 86 d.C1 e tinha como público alvo um grupo de judeus que haviam se convertido ao cristianismo.2 A carta não se preocupa com os fariseus, publicanos, saduceus ou qualquer outro grupo específico e sua possível influência na igreja. Várias questões teológicas surgem ao longo de toda carta, onde o autor percebe a necessidade de dialogar com a teologia do Antigo Testamento. O autor escreve a respeito de assuntos que não encontramos, com a mesma atenção, em outros lugares do Novo Testamento, tais como: o sacerdócio de Melquisedeque, o tabernáculo no deserto e o dia da expiação. Parece que a intenção do autor é escrever uma epistola que contemple ao mesmo tempo doutrina e exortação.3 Guthrie destaca que o autor conhecia muito bem seus leitores, sua história e situação. Ele sabia sobre o despojamento das suas propriedades (10.33-34) da generosidade daqueles irmãos (6.10) e conhecia o estado de mente atual deles (5.11ss.; 6.9ss.).4 O sacrifício e o sacerdócio de Jesus Cristo é destaque nos capítulos 7-10, mas o que chama atenção é quando o autor destaca a importância da comunhão na igreja e em suas atividades, ele escreve: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hb 10.25). Completando o quadro, o autor de hebreus discorre ainda sobre a questão da liderança e a necessidade dos novos cristãos em respeitá-la: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb 13.17).
Observem que estes dois assuntos, participação na igreja e respeito à liderança espiritual são características muito comuns no contexto da eclesiologia judaica. Quantas vezes encontramos no Antigo Testamento o abandono à comunhão com Deus e o questionamento dos judeus aos seus líderes espirituais? São muitas, como por exemplo: Moisés, Elias e Samuel.
Estas preocupações do autor de Hebreus não podem ser encontradas de maneira tão específica em outras cartas do Novo Testamento. Cada carta tem um contexto, e isso é obviamente gritante. Porque o contexto espiritual, a herança dos membros em cada comunidade difere uma da outra. Os leitores de hebreus são frutos de uma geração e cultura totalmente diferente dos irmãos que receberam a correspondência em Filipos, Colossos ou Éfeso.
Percebe-se, portanto, que a herança espiritual e o contexto cultural fazem muita diferença quando pensamos em uma comunhão dentro dos muros das igrejas. As pessoas que encontram, pela graça de Deus, o novo e vivo caminho (Hb 10.20) não estão desprovidas de uma herança litúrgica e doutrinária. Aqueles que experimentaram uma fé judaica sentirão a diferença litúrgica ritualística ortodoxa do judaísmo quanto comparado com o culto cristão. Os que vieram do catolicismo romano estarão ainda carregando em suas memórias vários elementos e vocabulários do romanismo. É comum encontrar evangélicos provenientes do catolicismo romano usando expressões como “nossa senhora”! Outros que tiveram uma fé anterior kardecista sentirão ainda a necessidade de “fazer algo” para ser salvo. Afinal sua fé anterior era voltada para os méritos, as boas obras.
Cabe ao pastor e a liderança da igreja identificar este universo pregresso e ensinar aquilo que Jesus Cristo afirmou: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24). Jesus sabia que para seguí-lo era e ainda é necessário abandonar o velho homem, suas crenças e valores sem Cristo e assumir uma nova jornada com a fé verdadeira e salvadora, com os valores e doutrinas do Deus triúno.
O autor da epístola aos Hebreus foi muito sábio ao identificar e tratar cada dúvida que a igreja estava vivendo. Com muita autoridade, seriedade e piedade amorosa percebe-se a maneira didática com que ele conduziu seu rebanho. Nossa igreja precisa de uma liderança que saiba identificar quais elementos são pressupostos hermenêuticos na expectativa e serviço dos membros da igreja. Tanto para aquelas características que eles querem distância, por não trazer uma memória positiva, quanto àqueles que eles desejam reproduzir por sentirem uma saudade litúrgica. Quem determina a forma e a essência da adoração é o nosso Senhor. “Deus é espírito; e importa que seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade” (João 4.24). Soli Deo Gloria!
Edificada Segundo o Plano do Senhor
John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master's College and Seminary e do ministério "Grace to You"; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.
Mateus 16.18, Atos 2.41, João 14.14
Em muitos aspectos, a igreja contemporânea se parece mais com um grande corporação do que com a igreja descrita no Novo Testamento. Às vezes, até os líderes de igreja são mais semelhantes a presidentes e executivos de grandes companhias do que a pastores humildes e amáveis. Infelizmente, as boas-novas – de que um pecador pode achar perdão para os pecados diante de um Deus santo, por colocar a sua confiança em e entregar toda a sua vida a Jesus Cristo – são freqüentemente ocultadas por programas orientados por "sucesso" e interesse em resultados.
Por conseqüência, muitas igrejas se tornaram nada mais do que centros de entretenimento, empregando táticas que atraem as pessoas à igreja, mas são incapazes de ministrar-lhes verdadeiramente, quando vêm à igreja.
Deus nunca tencionou que a igreja fosse assim. Em Mateus 16.18, Jesus diz: "Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Observe a única condição do Senhor nesta promessa: "Eu... edificarei a minha igreja" (ênfase acrescentada). A garantia do Senhor é válida somente quando Ele edifica a sua igreja à sua maneira. Quando seguimos a sua planta, podemos estar certos de que Ele está agindo por meio de nós e de que nada, nem mesmo as portas do inferno, O impedirá.
Então, qual é a planta? A igreja correta pela qual devemos começar é a primeira igreja – a de Jerusalém. Ele teve sua origem no Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo encheu os 120 crentes que se congregaram para uma reunião de oração. O Senhor acrescentou 3.000 almas naquele mesmo dia (At 2.41). Aqueles crentes novatos não sabiam nada a respeito de edificar uma igreja. Não tinha precedentes; não tinham um livro sobre a igreja; nem tinham o Novo Testamento. Apesar disso, a igreja foi edificada à maneira de Jesus, e, assim, ela é modelo para a igreja contemporânea.
De volta à planta: Estudo Bíblico, Comunhão e Oração
Atos 2.42 nos mostra a planta que eles seguiram: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações". Esses são os elementos vitais que constituem a função e a vida da igreja – e todos eles são citados em um único versículo.
Eis um ponto de partida óbvio: uma igreja edificada segundo o plano do Senhor começara com o correto material grosseiro – uma congregação salva. O versículo 41 revela que a igreja era constituída daqueles que "aceitaram a palavra" de Pedro e "perseveravam". Ou seja, a igreja de Jerusalém estava cheia de verdadeiros cristãos – aqueles que aderiam continuamente à doutrina dos apóstolos.
Se a igreja deve ser edificada à maneira de Cristo, ela tem de ser redimida e capacitada pelo Espírito Santo. Um membro de igreja não-salvo, destituído do Espírito Santo, não tem poder de vencer a vontade própria, interesses pessoais e o amor ao pecado. Somente os crentes têm o poder de Deus para despojarem-se dessas coisas e manifestarem o Espírito de Deus.
Embora a igreja primitiva não possuísse o Novo Testamento, ela tinha a Palavra de Deus na forma da "doutrina dos apóstolos". A igreja em Jerusalém era comprometida com o receber essa palavra. A doutrina é a base da igreja – você não pode viver o que não sabe e não entende. Essa foi a razão por que Paulo instruiu Timóteo nestes termos: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina" (2 Tm 4.2-3). Esse tempo chegou. Se a sua igreja não está pregando a verdade diretamente da Bíblia, como você reconhecerá o erro, quando ele surgir? Como você crescerá? Nunca permita que o púlpito da igreja seja ocupado por alguém que não guia a congregação por meio de um estudo profundo e penetrante da Palavra de Deus.
A principal ênfase da comunhão da igreja primitiva era o partir do pão – a Ceia do Senhor. Era o símbolo mais apropriado da comunhão deles, visto que lhes recordava o fundamento da sua unidade – a salvação em Cristo e a aceitação da doutrina dos apóstolos. Se você tem essas coisas como a base comum com outros crentes, a Ceia do Senhor – a comunhão – é, também, o símbolo mais adequado de sua comunhão.
Comemos e bebemos em memória do amor sacrificial de Cristo que O levou à cruz. Em nossa comunhão, devemos ter o hábito de praticar o mesmo tipo de amor que Cristo demonstrou para conosco. Em termos práticos, podemos sempre dar nossa vida por aqueles que Deus coloca em nossa jornada. Você ora habitualmente por seus irmãos em Cristo? Está encorajando-os, edificando-os, atendendo às suas necessidades físicas? Essas são as marcas da verdadeira comunhão cristã.
Atos 2.42 nos diz que os crentes se dedicavam à oração. Infelizmente, a mesma dedicação à oração é negligenciada em nossos dias. As igrejas podem encher os bancos por oferecerem entretenimento, mas, quando realizam a reunião de oração, somente alguns poucos fiéis vão à igreja. Os cristãos primitivos recordavam a promessa do Senhor: "Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei" (Jo 14.14). Enquanto eles demonstravam dependência do Senhor, os resultados (At 2.43-47) eram admiráveis.
Edificada de Acordo com a Escala: Temor, Amor e Alegria
O que acontece quando verdadeiros crentes permanecem sob a influência do ensino bíblico, em uma comunhão espiritual, dedicados à oração? Atos 2.43 diz: "Em cada alma havia temor". "Temor" fala-nos sobre um senso de reverência. É reservado para tempos especiais quando as pessoas são tomadas de admiração por causa de algo divino ou poderoso que desafia a explicação humana.
A nossa igreja deve ser capaz de instilar um senso de temor em nossa comunidade. A igreja primitiva fez isso. O versículo 43 diz que em todos havia temor, por causa dos "muitos prodígios e sinais... feitos por intermédio dos apóstolos". Embora os milagres e sinais da era apostólica não sejam mais necessários agora, quando a Palavra de Deus está completa, o poder de Deus continua se manifestando. O que poderia ser mais maravilhoso do que dar vida a pessoas que estão mortas no pecado? Deus cura as pessoas de suas feridas, une lares destroçados, liberta pessoas da escravidão ao pecado. Em resumo, Ele transforma vidas. Quando a igreja segue o plano de Deus, Ele fará coisas admiráveis e poderosas em vidas individuais diante de um mundo observador.
A igreja primitiva era cheia de amor – eles "tinham tudo em comum" (v. 44). Havia direito de propriedade na igreja primitiva – os crentes não viviam em uma comuna –, mas eles não possuíam nada em exclusão de alguém que tinha necessidade. Os verbos gregos traduzidos por "vendiam" e "distribuindo", no versículo 45, mostram que eles estavam continuamente vendendo e distribuindo os seus recursos conforme a necessidade. Esse tipo de amor sacrificial é o resultado da obra do Senhor em cristãos obedientes que seguem a planta do Senhor.
O Senhor abençoa aqueles que trabalham de acordo com seu plano. Ele enche de alegria (v. 46) e louvor (v. 47) a igreja obediente. Como não podemos ser felizes quando vemos Deus agir entre nós? Como podemos deixar de regozijar-nos quando vemos Deus usando a nossa igreja para causar um impacto eterno neste mundo? Segundo, o Senhor acrescenta almas à sua igreja. Atos 2.47 conclui dizendo que "acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos".
Desejo ver o crescimento da igreja. Sei que você compartilha desse desejo. Minha oração é que deixemos Deus edificar a igreja à sua maneira, enquanto aguardamos a volta do Senhor. Se você quer valorizar a sua igreja, siga a planta do Senhor e encoraje os líderes de sua igreja a fazerem o mesmo.
Mateus 16.18, Atos 2.41, João 14.14
Em muitos aspectos, a igreja contemporânea se parece mais com um grande corporação do que com a igreja descrita no Novo Testamento. Às vezes, até os líderes de igreja são mais semelhantes a presidentes e executivos de grandes companhias do que a pastores humildes e amáveis. Infelizmente, as boas-novas – de que um pecador pode achar perdão para os pecados diante de um Deus santo, por colocar a sua confiança em e entregar toda a sua vida a Jesus Cristo – são freqüentemente ocultadas por programas orientados por "sucesso" e interesse em resultados.
Por conseqüência, muitas igrejas se tornaram nada mais do que centros de entretenimento, empregando táticas que atraem as pessoas à igreja, mas são incapazes de ministrar-lhes verdadeiramente, quando vêm à igreja.
Deus nunca tencionou que a igreja fosse assim. Em Mateus 16.18, Jesus diz: "Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Observe a única condição do Senhor nesta promessa: "Eu... edificarei a minha igreja" (ênfase acrescentada). A garantia do Senhor é válida somente quando Ele edifica a sua igreja à sua maneira. Quando seguimos a sua planta, podemos estar certos de que Ele está agindo por meio de nós e de que nada, nem mesmo as portas do inferno, O impedirá.
Então, qual é a planta? A igreja correta pela qual devemos começar é a primeira igreja – a de Jerusalém. Ele teve sua origem no Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo encheu os 120 crentes que se congregaram para uma reunião de oração. O Senhor acrescentou 3.000 almas naquele mesmo dia (At 2.41). Aqueles crentes novatos não sabiam nada a respeito de edificar uma igreja. Não tinha precedentes; não tinham um livro sobre a igreja; nem tinham o Novo Testamento. Apesar disso, a igreja foi edificada à maneira de Jesus, e, assim, ela é modelo para a igreja contemporânea.
De volta à planta: Estudo Bíblico, Comunhão e Oração
Atos 2.42 nos mostra a planta que eles seguiram: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações". Esses são os elementos vitais que constituem a função e a vida da igreja – e todos eles são citados em um único versículo.
Eis um ponto de partida óbvio: uma igreja edificada segundo o plano do Senhor começara com o correto material grosseiro – uma congregação salva. O versículo 41 revela que a igreja era constituída daqueles que "aceitaram a palavra" de Pedro e "perseveravam". Ou seja, a igreja de Jerusalém estava cheia de verdadeiros cristãos – aqueles que aderiam continuamente à doutrina dos apóstolos.
Se a igreja deve ser edificada à maneira de Cristo, ela tem de ser redimida e capacitada pelo Espírito Santo. Um membro de igreja não-salvo, destituído do Espírito Santo, não tem poder de vencer a vontade própria, interesses pessoais e o amor ao pecado. Somente os crentes têm o poder de Deus para despojarem-se dessas coisas e manifestarem o Espírito de Deus.
Embora a igreja primitiva não possuísse o Novo Testamento, ela tinha a Palavra de Deus na forma da "doutrina dos apóstolos". A igreja em Jerusalém era comprometida com o receber essa palavra. A doutrina é a base da igreja – você não pode viver o que não sabe e não entende. Essa foi a razão por que Paulo instruiu Timóteo nestes termos: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina" (2 Tm 4.2-3). Esse tempo chegou. Se a sua igreja não está pregando a verdade diretamente da Bíblia, como você reconhecerá o erro, quando ele surgir? Como você crescerá? Nunca permita que o púlpito da igreja seja ocupado por alguém que não guia a congregação por meio de um estudo profundo e penetrante da Palavra de Deus.
A principal ênfase da comunhão da igreja primitiva era o partir do pão – a Ceia do Senhor. Era o símbolo mais apropriado da comunhão deles, visto que lhes recordava o fundamento da sua unidade – a salvação em Cristo e a aceitação da doutrina dos apóstolos. Se você tem essas coisas como a base comum com outros crentes, a Ceia do Senhor – a comunhão – é, também, o símbolo mais adequado de sua comunhão.
Comemos e bebemos em memória do amor sacrificial de Cristo que O levou à cruz. Em nossa comunhão, devemos ter o hábito de praticar o mesmo tipo de amor que Cristo demonstrou para conosco. Em termos práticos, podemos sempre dar nossa vida por aqueles que Deus coloca em nossa jornada. Você ora habitualmente por seus irmãos em Cristo? Está encorajando-os, edificando-os, atendendo às suas necessidades físicas? Essas são as marcas da verdadeira comunhão cristã.
Atos 2.42 nos diz que os crentes se dedicavam à oração. Infelizmente, a mesma dedicação à oração é negligenciada em nossos dias. As igrejas podem encher os bancos por oferecerem entretenimento, mas, quando realizam a reunião de oração, somente alguns poucos fiéis vão à igreja. Os cristãos primitivos recordavam a promessa do Senhor: "Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei" (Jo 14.14). Enquanto eles demonstravam dependência do Senhor, os resultados (At 2.43-47) eram admiráveis.
Edificada de Acordo com a Escala: Temor, Amor e Alegria
O que acontece quando verdadeiros crentes permanecem sob a influência do ensino bíblico, em uma comunhão espiritual, dedicados à oração? Atos 2.43 diz: "Em cada alma havia temor". "Temor" fala-nos sobre um senso de reverência. É reservado para tempos especiais quando as pessoas são tomadas de admiração por causa de algo divino ou poderoso que desafia a explicação humana.
A nossa igreja deve ser capaz de instilar um senso de temor em nossa comunidade. A igreja primitiva fez isso. O versículo 43 diz que em todos havia temor, por causa dos "muitos prodígios e sinais... feitos por intermédio dos apóstolos". Embora os milagres e sinais da era apostólica não sejam mais necessários agora, quando a Palavra de Deus está completa, o poder de Deus continua se manifestando. O que poderia ser mais maravilhoso do que dar vida a pessoas que estão mortas no pecado? Deus cura as pessoas de suas feridas, une lares destroçados, liberta pessoas da escravidão ao pecado. Em resumo, Ele transforma vidas. Quando a igreja segue o plano de Deus, Ele fará coisas admiráveis e poderosas em vidas individuais diante de um mundo observador.
A igreja primitiva era cheia de amor – eles "tinham tudo em comum" (v. 44). Havia direito de propriedade na igreja primitiva – os crentes não viviam em uma comuna –, mas eles não possuíam nada em exclusão de alguém que tinha necessidade. Os verbos gregos traduzidos por "vendiam" e "distribuindo", no versículo 45, mostram que eles estavam continuamente vendendo e distribuindo os seus recursos conforme a necessidade. Esse tipo de amor sacrificial é o resultado da obra do Senhor em cristãos obedientes que seguem a planta do Senhor.
O Senhor abençoa aqueles que trabalham de acordo com seu plano. Ele enche de alegria (v. 46) e louvor (v. 47) a igreja obediente. Como não podemos ser felizes quando vemos Deus agir entre nós? Como podemos deixar de regozijar-nos quando vemos Deus usando a nossa igreja para causar um impacto eterno neste mundo? Segundo, o Senhor acrescenta almas à sua igreja. Atos 2.47 conclui dizendo que "acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos".
Desejo ver o crescimento da igreja. Sei que você compartilha desse desejo. Minha oração é que deixemos Deus edificar a igreja à sua maneira, enquanto aguardamos a volta do Senhor. Se você quer valorizar a sua igreja, siga a planta do Senhor e encoraje os líderes de sua igreja a fazerem o mesmo.
A Maldição do Homem Moderno
Existe uma maldição antiga que permanece conosco até hoje — a disposição da sociedade humana de ser completamente absorvida por um mundo sem Deus.
Embora Jesus Cristo tenha vindo a este mundo, este é o pecado supremo dos incrédulos, o qual levou o homem a não sentir — nem sentirá — a presença dEle que permeia todas as coisas. O homem não pode ver a verdadeira Luz, tampouco pode ouvir a voz do Deus de amor e verdade.
Temos nos tornado uma sociedade “profana” — completamente envolvida em nada mais do que os aspectos físico e material desta vida terrena. Homens e mulheres se gloriam do fato de que são capazes de viver em casas luxuosas, vestir roupas de estilistas famosos e dirigir os melhores carros que o dinheiro pode comprar — coisas que as gerações anteriores nunca puderam ter.
Esta é a maldição que jaz sobre o homem moderno — ele é insensível, cego e surdo em sua prontidão de esquecer que existe um Deus. Aceitou a grande mentira e crença estranha de que o materialismo constitui a boa vida. Mas, querido amigo, você sabe que o seu grande pecado é este: a presença eterna de Deus, que alcança todas as coisas, está aqui, e você não pode senti-Lo de maneira alguma, nem O reconhece no menor grau? Você não está ciente de que existe uma grande e verdadeira Luz que resplandece intensamente e que você não pode vê-la? Você não tem ouvido, em sua consciência e mente, uma Voz amável sussurrando a respeito do valor e importância eterna de sua alma, mas, apesar disso, tem dito: “Não ouço nada?”
Muitos homens imprudentes e inclinados ao secularismo respondem: “Bem, estou disposto a agarrar minhas chances”. Que conversa tola de uma criatura frágil e mortal! Isto é tolice porque os homens não podem se dar ao luxo de agarrar as suas chances — quer sejam salvos e perdoados, quer sejam perdidos. Com certeza, esta é a grande maldição que jaz sobre a humanidade de nossos dias — os homens estão envolvidos de tal modo em seu mundo sem Deus, que recusam a Luz que agora brilha, a Voz que fala e a Presença que permeia e muda os corações.
Por isso, os homens buscam dinheiro, fama, lucro, fortuna, entretenimento permanente ou apego aos prazeres. Buscam qualquer coisa que lhes removam a seriedade do viver e que os impeça de sentir que há uma Presença, que é o caminho, a verdade e a vida.
Eu mesmo fui ignorante até aos 17 anos, quando ouvi, pela primeira vez, a pregação na rua e entrei numa igreja onde ouvi um homem citando uma passagem das Escrituras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim... e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11. 28,29).
Eu era realmente pouco melhor do que um pagão, mas, de repente, fiquei muito perturbado, pois comecei a sentir e reconhecer a graciosa presença de Deus. Ouvi a voz dEle em meu coração falando indistintamente. Discerni que havia uma Luz resplandecendo em minhas trevas.
Novamente, andando pela rua, parei para ouvir um homem que pregava, em um cantinho, e dizia aos ouvintes: “Se vocês não sabem orar, vão para casa, ajoelhem-se e digam: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Isso foi exatamente o que eu fiz. E Deus prometeu perdoar e satisfazer qualquer pessoa que estiver com bastante fome espiritual e muito interessado, a ponto de clamar: “Senhor, salva-me!”
Bem, Ele está aqui agora. A Palavra, o Senhor Jesus Cristo, se tornou carne e habitou entre nós; e ainda está entre nós, disposto e capaz de salvar. A única coisa que alguém precisa fazer é clamar com um coração humilde e necessitado: “ó Cordeiro de Deus, eu venho a Ti; eu venho a Ti!
Embora Jesus Cristo tenha vindo a este mundo, este é o pecado supremo dos incrédulos, o qual levou o homem a não sentir — nem sentirá — a presença dEle que permeia todas as coisas. O homem não pode ver a verdadeira Luz, tampouco pode ouvir a voz do Deus de amor e verdade.
Temos nos tornado uma sociedade “profana” — completamente envolvida em nada mais do que os aspectos físico e material desta vida terrena. Homens e mulheres se gloriam do fato de que são capazes de viver em casas luxuosas, vestir roupas de estilistas famosos e dirigir os melhores carros que o dinheiro pode comprar — coisas que as gerações anteriores nunca puderam ter.
Esta é a maldição que jaz sobre o homem moderno — ele é insensível, cego e surdo em sua prontidão de esquecer que existe um Deus. Aceitou a grande mentira e crença estranha de que o materialismo constitui a boa vida. Mas, querido amigo, você sabe que o seu grande pecado é este: a presença eterna de Deus, que alcança todas as coisas, está aqui, e você não pode senti-Lo de maneira alguma, nem O reconhece no menor grau? Você não está ciente de que existe uma grande e verdadeira Luz que resplandece intensamente e que você não pode vê-la? Você não tem ouvido, em sua consciência e mente, uma Voz amável sussurrando a respeito do valor e importância eterna de sua alma, mas, apesar disso, tem dito: “Não ouço nada?”
Muitos homens imprudentes e inclinados ao secularismo respondem: “Bem, estou disposto a agarrar minhas chances”. Que conversa tola de uma criatura frágil e mortal! Isto é tolice porque os homens não podem se dar ao luxo de agarrar as suas chances — quer sejam salvos e perdoados, quer sejam perdidos. Com certeza, esta é a grande maldição que jaz sobre a humanidade de nossos dias — os homens estão envolvidos de tal modo em seu mundo sem Deus, que recusam a Luz que agora brilha, a Voz que fala e a Presença que permeia e muda os corações.
Por isso, os homens buscam dinheiro, fama, lucro, fortuna, entretenimento permanente ou apego aos prazeres. Buscam qualquer coisa que lhes removam a seriedade do viver e que os impeça de sentir que há uma Presença, que é o caminho, a verdade e a vida.
Eu mesmo fui ignorante até aos 17 anos, quando ouvi, pela primeira vez, a pregação na rua e entrei numa igreja onde ouvi um homem citando uma passagem das Escrituras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim... e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11. 28,29).
Eu era realmente pouco melhor do que um pagão, mas, de repente, fiquei muito perturbado, pois comecei a sentir e reconhecer a graciosa presença de Deus. Ouvi a voz dEle em meu coração falando indistintamente. Discerni que havia uma Luz resplandecendo em minhas trevas.
Novamente, andando pela rua, parei para ouvir um homem que pregava, em um cantinho, e dizia aos ouvintes: “Se vocês não sabem orar, vão para casa, ajoelhem-se e digam: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Isso foi exatamente o que eu fiz. E Deus prometeu perdoar e satisfazer qualquer pessoa que estiver com bastante fome espiritual e muito interessado, a ponto de clamar: “Senhor, salva-me!”
Bem, Ele está aqui agora. A Palavra, o Senhor Jesus Cristo, se tornou carne e habitou entre nós; e ainda está entre nós, disposto e capaz de salvar. A única coisa que alguém precisa fazer é clamar com um coração humilde e necessitado: “ó Cordeiro de Deus, eu venho a Ti; eu venho a Ti!
João Calvino e a Pregação das Escrituras
João Calvino e a Pregação das Escrituras
Franklin Ferreira
De humanista a reformador João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, em Noyon, na Província de Picardia (França), na fronteira dos Países Baixos. Seu pai era um advogado que trabalhou para o cônego desta cidade, e sua mãe, uma mulher muito piedosa. Foi enviado para estudar filosofia em Paris, no Collège de Montaigu, mas em 1528, após se desentender com os líderes da igreja, seu pai o enviou para estudar direito em Orléans e grego em Bourges. Em 1531, com a morte do pai, retornou a Paris para dedicar-se ao seu interesse predileto, a literatura clássica.
Em 1533, converteu-se à fé evangélica e a respeito deste fato disse:
"Minha mente, que, a despeito de minha juventude, estivera por demais empedernida em tais assuntos, agora estava preparada para uma atenção séria. Por uma súbita conversão, Deus transformou-a e trouxe-a à docilidade".
No final desse ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser coautor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o novo reitor da Universidade de Paris. Refugiou-se na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a sua principal obra teológica. Em março de 1535, foi publicada em Basiléia a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, que seria "uma chave para abrir o caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas".
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coagido por Guillaume Farel a iniciar um trabalho ali. Calvino ficou chocado com a idéia, pois se sentiu despreparado para a tarefa. Ele poderia fazer mais pela igreja através de seus estudos e de seus escritos.
Nesse momento, Farel trovejou a ira de Deus sobre Calvino com palavras que este jamais esqueceria – Deus amaldiçoaria o seu lazer e os seus estudos se, em tão grave emergência, ele se retirasse, recusando-se a ajudar. A primeira estadia de Calvino em Genebra durou menos de dois anos. O seu primeiro catecismo e confissão de fé foram adotados, mas ele e Farel entraram em conflito com as autoridades civis acerca de questões eclesiásticas: disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas.
De 1538 a 1541, mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de refugiados franceses. Um refugiado que visitou a igreja de Calvino fez a seguinte descrição do culto:
"Todos cantam, homens e mulheres; e é um belo espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos... Olhando para esse pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto agradeciam a Deus por tê-los levado a um lugar onde seu nome é glorificado". Lá se casou com Idelette de Bure e travou contato com Martin Bucer, que influenciou profundamente sua teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina clesiástica.
O erudito de Genebra
Em 1541, os genebrinos suplicaram que Calvino retornasse à sua igreja. Ele retornou a Genebra no dia 13 de setembro, viu-se nomeado pregador da antiga igreja de St. Pierre e foi "contemplado com um salário razoável, uma casa ampla e porções anuais de 12 medidas de trigo e 250 galões de vinho". Em 1548, Idelette faleceu, e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que tiveram morreu ainda na infância. No entanto, Calvino não ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais trocava intensa correspondência. Depois de grandes lutas, conseguiu implementar seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um exemplo para toda a cristandade, "a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos", como o reformador escocês John Knox disse.
Em 6 de fevereiro de 1564, Calvino, muito enfermo, foi transportado para a igreja numa cadeira, pregando então com dificuldade o seu último sermão. No dia de Páscoa, 2 de abril, foi levado pela última vez à igreja. Participou da ceia e, com a voz trêmula, cantou
junto com a congregação. Em 28 de abril de 1564, um mês antes de morrer, convocou os ministros de Genebra à sua casa. Tendo-os à sua volta, despediu-se: "A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e Deus me deu a graça de escrever.
Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus". Ele faleceu em 27 de maio de 1564. Calvino foi enterrado em um cemitério comum. Devido a seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura.
A pregação como Vox Dei
Calvino definiu assim a comunidade cristã: "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, não se pode contestar, de modo nenhum, que ali há uma igreja de Deus".
Como o Rev. Paulo Anglada demonstra, o reformador francês elaborou detalhadamente o tema da natureza da pregação como "a voz de Deus". Em seu comentário de Isaías, ele afirma que na pregação "a palavra sai da boca de Deus de tal maneira que ela sai, de igual modo, da boca de homens; pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que, pela agência deles, possa fazer conhecida a sua vontade".
Comentando a Epístola aos Gálatas, Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra, afirmando: visto que Deus "emprega os ministros e a pregação como seus instrumentos para este propósito, apraz-lhe atribuir a eles a obra que ele mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do homem". Para Calvino, a leitura e a meditação privadas das Escrituras não substituem o culto público, pois, "entre os muitos nobres dons com os quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende em consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua própria voz seja ouvida neles". Por essa razão, argumenta Calvino, quem despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua Palavra. Ao falar Deus aos homens, por meio da pregação, Calvino identifica dois benefícios: "Por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável, prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como ouviríamos a ele mesmo; enquanto, por outro, ele leva em
consideração a nossa fraqueza, ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim de que possa atrair-nos a si mesmo, em vez de afastar-nos por seu trovão".
A importância dada ao sermão se percebe no lugar que ele ocupa na liturgia reformada – o lugar central.
Isso não significa que Calvino tenha dado importância exagerada ao pregador; significa apenas que, para ele, o sermão tem de ser a fiel interpretação da verdade revelada nas Escrituras, dirigida aos problemas do momento. Assim como Calvino cria na presença espiritual de Cristo na administração dos sacramentos, também cria na presença espiritual de Cristo na pregação, salvando os eleitos, edificando e governando sua igreja. Essa concepção sacramental da pregação é afirmada diversas vezes por Calvino nas Institutas. Por exemplo, ao combater o emprego de símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, ele afirma que é "pela verdadeira pregação do evangelho", e não por cruzes, que "Cristo é retratado como crucificado diante de nós" (I.11.7).
Citando Agostinho (IV.14.26), que se referia às palavras como sinais, Calvino entendia que na pregação "o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia. Neste sentido, as palavras do sermão são comparáveis aos elementos nos sacramentos" (IV.1.6; 4.14.9-19). Por isso, ele escreveu: "A igreja de Deus será educada pela pregação autêntica de sua Palavra, e não pelas invenções dos homens [as quais são madeira, feno e palha]".
A prioridade da pregação expositiva
Calvino escreveu: "A majestade das Escrituras merece que seus expositores façam-na evidente, que tratem-na com modéstia e reverência".
Durante quase 25 anos de ministério na igreja de St. Pierre, em Genebra, seu modelo de pregação foi o mesmo, do começo ao fim, pregando através da Escritura, livro após livro, versículo após versículo.
Uma das mais claras ilustrações de que a pregação seqüencial havia sido uma escolha consciente da parte de Calvino foi este fato: no dia da Páscoa, em 1538, depois de pregar,
ele deixou o púlpito da igreja de St.
Pierre, banido pelo conselho da cidade; quando retornou, em setembro de 1541, mais de três anos depois, ele continuou a exposição no versículo seguinte.
Como John Piper demonstra, no auge de seu ministério em Genebra, Calvino pregava num livro do Novo Testamento nos domingos pela manhã e à tarde (embora pregasse nos Salmos em algumas tardes) e num livro do Antigo Testamento, nas manhãs, durante a semana. Desse modo, ele expôs a maior parte das Escrituras. Ele começou sua série de pregações expositivas no livro de Atos, em 25 de agosto de 1549 e terminou-a em março de 1554, num total de 89 sermões. Depois, ele prosseguiu para 1 e 2 Tessalonicenses (46 sermões), 1 e 2 Coríntios (186 sermões) e Efésios (48 sermões), até maio de 1558, quando passou um tempo adoentado. Na primavera de 1559, começou a Harmonia dos Evangelhos, série inacabada por conta de sua morte em maio de 1564 (65 sermões). Durante a semana, naquele período, pregou 174 sermões em Ezequiel (1552-1554), 159 sermões em Jó (1554-1555), 200 sermões em Deuteronômio (1555-1556), 353 sermões em Isaías (1556-1559), 123 sermões em Gênesis (1559-1561), 107 sermões em 1 Samuel e 87 sermões em 2 Samuel (1561-1563), e assim por diante. Os livros que ele pregou do primeiro ao último capítulo foram: Gênesis, Deuteronômio, Jó, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Profetas Maiores e Menores, Evangelhos Sinóticos, Atos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus. Por que este compromisso com a centralidade da pregação expositiva seqüencial? Piper sugere as seguintes espostas:
1. Calvino acreditava que a Escritura era a lâmpada que havia sido tirada das igrejas: "Tua Palavra, que deveria ter brilhado sobre todas as pessoas como uma lâmpada, foi retirada ou, pelo menos, suprimida de nós... E agora, ó Senhor, o que resta a um miserável como eu a não ser... suplicar-te sinceramente que não me julgues de acordo com [meus] desertos, aquele terrível abandono da tua Palavra em que vivi e do qual, na tua maravilhosa bondade, me livraste". Calvino considerou que essa contínua exposição de livros da Bíblia era a melhor maneira de superar o "terrível abandono da Palavra [de Deus]".
2. Calvino tinha aversão a quem pregava suas próprias idéias no púlpito: "Quando adentramos o púlpito, não podemos levar conosco nossos próprios sonhos e fantasias".
Acreditava que, expondo as Escrituras por completo, seria forçado a lidar com o que Deus queria dizer, não somente com o que ele talvez gostaria de dizer.
3. Ele acreditava que a Palavra de Deus era, de fato, a Palavra de Deus e que toda ela era inspirada, proveitosa e fulgurante como a luz da glória de Deus: "Que os pastores ousem corajosamente todas as coisas pela Palavra de Deus...
Que contenham e comandem todo poder, glória e excelência do mundo, que dêem lugar e obedeçam à divina majestade dessa Palavra.
Que encarreguem o mundo todo de fazer isso, desde o maior até ao menor. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que devastem o reino de Satanás. Que cuidem das ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem os rebeldes. Que amarrem e libertem trovões e raios, se necessário, mas que façam tudo isso de acordo com a Palavra de Deus".
Como Piper destaca, a ênfase aqui é "a divina majestade dessa Palavra". Este sempre foi o assunto fundamental para Calvino. Como poderia expor, da melhor maneira possível, a majestade de Deus? Sua resposta foi dada com uma vida de pregação expositiva contínua. Não havia maneira melhor para manifestar a completa extensão da glória e da majestade de Deus do que difundir toda a Palavra de Deus no contexto do ministério pastoral.
A estrutura do sermão
James Boyce escreveu: "Calvino era antes de tudo um pregador e, como pregador, via-se a si mesmo como um professor da Bíblia... Ele considerava a pregação o seu trabalho mais importante". Cerca de dois mil dos sermões de Calvino foram preservados. Expondo parágrafos e versículos, ele seguia através de um profeta, de um salmo, de um evangelho ou de uma epístola. Como Boyce descreveu: "Ele começava no primeiro versículo do livro e tratava de seções contínuas, de quatro ou cinco versículos, até que chegava ao fim e, neste ponto, dava início a outro livro". Não havia uma palavra de discordância com as Escrituras, nem uma inferência depreciativa, nem uma fuga das dificuldades, embora ele evitasse as especulações infundadas: "Visto que revelar a mente do autor é a única tarefa do intérprete, ele erra o alvo ou, pelo menos, desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor... É... presunção e quase blasfêmia distorcer o significado das Escrituras, agindo sem o devido cuidado, como se isso fosse um jogo que estivéssemos jogando". Por isso, ele enfatizou: "O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio". Ele renunciou tudo que pudesse trazer-lhe notoriedade, colocando toda sua formação a serviço da fé cristã.
Não é possível descobrir nos sermões de Calvino o arranjo homilético segundo as normas atuais de pregação. Em muitos casos, Calvino tomava o texto, analisava-o e aplicava-o sucessivamente durante cerca de uma hora, o que conferia à mensagem um tom livre e informal.
Como Steven Lawson nota, a introdução do sermão era curta, sucinta e direta, consistindo de um breve comentário que lembrava a congregação o que a passagem anterior dizia,colocava os próximos versículos no contexto ou mostrava o argumento central da passagem pregada, relacionando-a ao contexto da estrutura do livro que estava sendo exposto.
Por isso, pode-se perceber que há uma ordem e um arranjo lógico e um desenvolvimento progressivo nas suas mensagens. Seus sermões não são exemplos de beleza e estilo por duas razões: ele pregava sem esboço, pois tinha de pregar quase diariamente; e tinha um profundo respeito para com a Palavra de Deus, a ponto de pensar que um estilo excessivamente elaborado poderia prejudicar a clareza da mensagem.
Neste caso, a pregação sem anotações era uma reação ao costume daquela época, quando os sermões eram lidos e se tornavam frios, sem entusiasmo e sem energia. Por outro lado, de acordo com Lawson, ainda que pregasse sem anotações, seus sermões testemunham um uso impressionante de frases curtas compostas de sujeito, verbo e predicado e fáceis de assimilar, palavras simples e expressões coloquiais, figuras de linguagem, perguntas retóricas, paráfrases e repetições, ironia mordaz e linguagem instigante.
Carl G. Kromminga afirmou que Calvino viveu e trabalhou como se estivesse na presença de Deus. Por isso, o empenho de Calvino era trazer os homens à presença de Deus.
Isto é ainda mais evidente em seus sermões, que eram sempre cruciais e decisivos. T. H. L. Parker escreveu: "A pregação expositiva consiste na explanação e aplicação de uma
passagem das Escrituras. Sem explanação, ela não é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação". Por isso, Calvino escreveu que os ouvintes do sermão deveriam cultivar um "desejo de obedecer a Deus de forma completa e incondicional". E acrescentou: "Não assistimos à pregação meramente para ouvir o que não sabemos, mas para sermos encorajados a fazer nossa obrigação".
Por isso, seus sermões partiam das Escrituras para a situação concreta e presente em Genebra, incluindo exortação pastoral, exame pessoal, repreensão amorosa, confrontação, usando muitas vezes pronomes na primeira pessoa do plural.
Nem sempre Calvino usou ilustrações, e, quando as usava, elas eram raramente de fora da Escritura. No entanto, ele estabelecia comparações com o quadro da vida diária para tornar bem accessível ao seu ouvinte a mensagem da Palavra de Deus. Kromminga aponta as metáforas, as exclamações e outros recursos da oratória que contribuíram para tornar efetiva a sua mensagem.
E, na conclusão de cada sermão, ele fazia primeiramente um resumo da verdade que explicara num parágrafo curto; depois, instava de forma direta seus ouvintes a que se submetessem ao Senhor, em arrependimento, obediência e humildade.
Finalmente, ele concluía com uma oração, confiando seu rebanho a Deus.
Precisa ser ressaltado que Calvino acreditava que Paulo havia providenciado um modelo para o ministério da Palavra, quando falou sobre como ele, Paulo, não cessava de admoestar tanto "publicamente" quanto de "casa em casa". Por ter uma verdadeira preocupação pastoral por aqueles para quem estava pregando, Calvino procurou visitá-los em seus lares. "O que quer que os outros pensem", Calvino escreveu, "não julgaremos o nosso ofício como algo que possui limites tão estreitos, que, terminado o sermão, possamos descansar achando que concluímos a nossa tarefa. Aqueles cujo sangue será requerido de nós, se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem receber cuidado mais íntimo e mais vigilante". Portanto, a pregação requer ser suplementada com uma entrevista pastoral. "Não é suficiente que, do púlpito, um pastor ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de acordo com a necessidade e as circunstâncias específicas de cada caso". Calvino insistiu que o pastor precisa ser um pai para cada membro da congregação.
O papel do pregador
O centro da atenção de Calvino era a vontade de Deus, era a revelação da face de Deus e o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Ou na pregação da mais profunda doutrina, ou em algum tema ligado à vida prática, Calvino chamava continuamente os seus ouvintes à face de Deus. Em 1537, aos 29 anos, num de seus primeiros livros, Breve Instrução Cristã, ele escreveu:
Como o Senhor desejou que tanto a Sua Palavra como as Suas ordenanças fossem dispensadas ou administradas por meio do ministério de homens, é necessário que haja pastores ordenados nas igrejas, para ensinarem ao povo a sã doutrina, pública e privadamente; administrarem as ordenanças e darem a todos o bom exemplo de uma vida pura e santa... Lembremo-nos, contudo, que a autoridade que as Escrituras atribuem aos pastores está plenamente contida nos limites do ministério da Palavra, pois o fato é que Cristo não deu esta autoridade a homens, e sim à Palavra da qual Ele faz esses homens servos.
Portanto, que os ministros da Palavra se disponham a fazer todas as coisas por meio dessa Palavra que eles foram designados a apresentar.
Que eles façam com que todos os poderes, todas as celebridades e todas as pessoas de alta posição no mundo se humilhem, a fim de obedecerem à majestade dessa Palavra.
Por meio dessa Palavra, que eles dêem ordens a todo o mundo, do maior ao menor; que edifiquem a casa de Cristo, ponham abaixo o reino de Satanás, pastoreiem as ovelhas, matem os lobos, instruam e encorajem os que se deixam ensinar; acusem, repreendam e convençam os rebeldes dos seus pecados – mas tudo pela Palavra de Deus.
Se alguma vez eles se apartarem dessa Palavra, para seguirem as fantasias e invenções da sua própria cabeça, daí em diante não devem ser recebidos como pastores; ao contrário, são lobos perniciosos que devem ser postos fora! Pois Cristo estabeleceu que não devemos dar ouvidos a ninguém, exceto àqueles que nos ensinam o que extraíram de Sua Palavra.
Não será disso que necessitamos com urgência hoje? Porventura, será que não precisamos hoje de uma revitalização da mensagem ao estilo de Calvino, de modo a colocar a comunidade cristã face a face com Deus?
Franklin Ferreira
De humanista a reformador João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, em Noyon, na Província de Picardia (França), na fronteira dos Países Baixos. Seu pai era um advogado que trabalhou para o cônego desta cidade, e sua mãe, uma mulher muito piedosa. Foi enviado para estudar filosofia em Paris, no Collège de Montaigu, mas em 1528, após se desentender com os líderes da igreja, seu pai o enviou para estudar direito em Orléans e grego em Bourges. Em 1531, com a morte do pai, retornou a Paris para dedicar-se ao seu interesse predileto, a literatura clássica.
Em 1533, converteu-se à fé evangélica e a respeito deste fato disse:
"Minha mente, que, a despeito de minha juventude, estivera por demais empedernida em tais assuntos, agora estava preparada para uma atenção séria. Por uma súbita conversão, Deus transformou-a e trouxe-a à docilidade".
No final desse ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser coautor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o novo reitor da Universidade de Paris. Refugiou-se na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a sua principal obra teológica. Em março de 1535, foi publicada em Basiléia a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, que seria "uma chave para abrir o caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas".
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coagido por Guillaume Farel a iniciar um trabalho ali. Calvino ficou chocado com a idéia, pois se sentiu despreparado para a tarefa. Ele poderia fazer mais pela igreja através de seus estudos e de seus escritos.
Nesse momento, Farel trovejou a ira de Deus sobre Calvino com palavras que este jamais esqueceria – Deus amaldiçoaria o seu lazer e os seus estudos se, em tão grave emergência, ele se retirasse, recusando-se a ajudar. A primeira estadia de Calvino em Genebra durou menos de dois anos. O seu primeiro catecismo e confissão de fé foram adotados, mas ele e Farel entraram em conflito com as autoridades civis acerca de questões eclesiásticas: disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas.
De 1538 a 1541, mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de refugiados franceses. Um refugiado que visitou a igreja de Calvino fez a seguinte descrição do culto:
"Todos cantam, homens e mulheres; e é um belo espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos... Olhando para esse pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto agradeciam a Deus por tê-los levado a um lugar onde seu nome é glorificado". Lá se casou com Idelette de Bure e travou contato com Martin Bucer, que influenciou profundamente sua teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina clesiástica.
O erudito de Genebra
Em 1541, os genebrinos suplicaram que Calvino retornasse à sua igreja. Ele retornou a Genebra no dia 13 de setembro, viu-se nomeado pregador da antiga igreja de St. Pierre e foi "contemplado com um salário razoável, uma casa ampla e porções anuais de 12 medidas de trigo e 250 galões de vinho". Em 1548, Idelette faleceu, e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que tiveram morreu ainda na infância. No entanto, Calvino não ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais trocava intensa correspondência. Depois de grandes lutas, conseguiu implementar seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um exemplo para toda a cristandade, "a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos", como o reformador escocês John Knox disse.
Em 6 de fevereiro de 1564, Calvino, muito enfermo, foi transportado para a igreja numa cadeira, pregando então com dificuldade o seu último sermão. No dia de Páscoa, 2 de abril, foi levado pela última vez à igreja. Participou da ceia e, com a voz trêmula, cantou
junto com a congregação. Em 28 de abril de 1564, um mês antes de morrer, convocou os ministros de Genebra à sua casa. Tendo-os à sua volta, despediu-se: "A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e Deus me deu a graça de escrever.
Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus". Ele faleceu em 27 de maio de 1564. Calvino foi enterrado em um cemitério comum. Devido a seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura.
A pregação como Vox Dei
Calvino definiu assim a comunidade cristã: "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, não se pode contestar, de modo nenhum, que ali há uma igreja de Deus".
Como o Rev. Paulo Anglada demonstra, o reformador francês elaborou detalhadamente o tema da natureza da pregação como "a voz de Deus". Em seu comentário de Isaías, ele afirma que na pregação "a palavra sai da boca de Deus de tal maneira que ela sai, de igual modo, da boca de homens; pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que, pela agência deles, possa fazer conhecida a sua vontade".
Comentando a Epístola aos Gálatas, Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra, afirmando: visto que Deus "emprega os ministros e a pregação como seus instrumentos para este propósito, apraz-lhe atribuir a eles a obra que ele mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do homem". Para Calvino, a leitura e a meditação privadas das Escrituras não substituem o culto público, pois, "entre os muitos nobres dons com os quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende em consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua própria voz seja ouvida neles". Por essa razão, argumenta Calvino, quem despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua Palavra. Ao falar Deus aos homens, por meio da pregação, Calvino identifica dois benefícios: "Por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável, prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como ouviríamos a ele mesmo; enquanto, por outro, ele leva em
consideração a nossa fraqueza, ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim de que possa atrair-nos a si mesmo, em vez de afastar-nos por seu trovão".
A importância dada ao sermão se percebe no lugar que ele ocupa na liturgia reformada – o lugar central.
Isso não significa que Calvino tenha dado importância exagerada ao pregador; significa apenas que, para ele, o sermão tem de ser a fiel interpretação da verdade revelada nas Escrituras, dirigida aos problemas do momento. Assim como Calvino cria na presença espiritual de Cristo na administração dos sacramentos, também cria na presença espiritual de Cristo na pregação, salvando os eleitos, edificando e governando sua igreja. Essa concepção sacramental da pregação é afirmada diversas vezes por Calvino nas Institutas. Por exemplo, ao combater o emprego de símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, ele afirma que é "pela verdadeira pregação do evangelho", e não por cruzes, que "Cristo é retratado como crucificado diante de nós" (I.11.7).
Citando Agostinho (IV.14.26), que se referia às palavras como sinais, Calvino entendia que na pregação "o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia. Neste sentido, as palavras do sermão são comparáveis aos elementos nos sacramentos" (IV.1.6; 4.14.9-19). Por isso, ele escreveu: "A igreja de Deus será educada pela pregação autêntica de sua Palavra, e não pelas invenções dos homens [as quais são madeira, feno e palha]".
A prioridade da pregação expositiva
Calvino escreveu: "A majestade das Escrituras merece que seus expositores façam-na evidente, que tratem-na com modéstia e reverência".
Durante quase 25 anos de ministério na igreja de St. Pierre, em Genebra, seu modelo de pregação foi o mesmo, do começo ao fim, pregando através da Escritura, livro após livro, versículo após versículo.
Uma das mais claras ilustrações de que a pregação seqüencial havia sido uma escolha consciente da parte de Calvino foi este fato: no dia da Páscoa, em 1538, depois de pregar,
ele deixou o púlpito da igreja de St.
Pierre, banido pelo conselho da cidade; quando retornou, em setembro de 1541, mais de três anos depois, ele continuou a exposição no versículo seguinte.
Como John Piper demonstra, no auge de seu ministério em Genebra, Calvino pregava num livro do Novo Testamento nos domingos pela manhã e à tarde (embora pregasse nos Salmos em algumas tardes) e num livro do Antigo Testamento, nas manhãs, durante a semana. Desse modo, ele expôs a maior parte das Escrituras. Ele começou sua série de pregações expositivas no livro de Atos, em 25 de agosto de 1549 e terminou-a em março de 1554, num total de 89 sermões. Depois, ele prosseguiu para 1 e 2 Tessalonicenses (46 sermões), 1 e 2 Coríntios (186 sermões) e Efésios (48 sermões), até maio de 1558, quando passou um tempo adoentado. Na primavera de 1559, começou a Harmonia dos Evangelhos, série inacabada por conta de sua morte em maio de 1564 (65 sermões). Durante a semana, naquele período, pregou 174 sermões em Ezequiel (1552-1554), 159 sermões em Jó (1554-1555), 200 sermões em Deuteronômio (1555-1556), 353 sermões em Isaías (1556-1559), 123 sermões em Gênesis (1559-1561), 107 sermões em 1 Samuel e 87 sermões em 2 Samuel (1561-1563), e assim por diante. Os livros que ele pregou do primeiro ao último capítulo foram: Gênesis, Deuteronômio, Jó, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Profetas Maiores e Menores, Evangelhos Sinóticos, Atos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus. Por que este compromisso com a centralidade da pregação expositiva seqüencial? Piper sugere as seguintes espostas:
1. Calvino acreditava que a Escritura era a lâmpada que havia sido tirada das igrejas: "Tua Palavra, que deveria ter brilhado sobre todas as pessoas como uma lâmpada, foi retirada ou, pelo menos, suprimida de nós... E agora, ó Senhor, o que resta a um miserável como eu a não ser... suplicar-te sinceramente que não me julgues de acordo com [meus] desertos, aquele terrível abandono da tua Palavra em que vivi e do qual, na tua maravilhosa bondade, me livraste". Calvino considerou que essa contínua exposição de livros da Bíblia era a melhor maneira de superar o "terrível abandono da Palavra [de Deus]".
2. Calvino tinha aversão a quem pregava suas próprias idéias no púlpito: "Quando adentramos o púlpito, não podemos levar conosco nossos próprios sonhos e fantasias".
Acreditava que, expondo as Escrituras por completo, seria forçado a lidar com o que Deus queria dizer, não somente com o que ele talvez gostaria de dizer.
3. Ele acreditava que a Palavra de Deus era, de fato, a Palavra de Deus e que toda ela era inspirada, proveitosa e fulgurante como a luz da glória de Deus: "Que os pastores ousem corajosamente todas as coisas pela Palavra de Deus...
Que contenham e comandem todo poder, glória e excelência do mundo, que dêem lugar e obedeçam à divina majestade dessa Palavra.
Que encarreguem o mundo todo de fazer isso, desde o maior até ao menor. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que devastem o reino de Satanás. Que cuidem das ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem os rebeldes. Que amarrem e libertem trovões e raios, se necessário, mas que façam tudo isso de acordo com a Palavra de Deus".
Como Piper destaca, a ênfase aqui é "a divina majestade dessa Palavra". Este sempre foi o assunto fundamental para Calvino. Como poderia expor, da melhor maneira possível, a majestade de Deus? Sua resposta foi dada com uma vida de pregação expositiva contínua. Não havia maneira melhor para manifestar a completa extensão da glória e da majestade de Deus do que difundir toda a Palavra de Deus no contexto do ministério pastoral.
A estrutura do sermão
James Boyce escreveu: "Calvino era antes de tudo um pregador e, como pregador, via-se a si mesmo como um professor da Bíblia... Ele considerava a pregação o seu trabalho mais importante". Cerca de dois mil dos sermões de Calvino foram preservados. Expondo parágrafos e versículos, ele seguia através de um profeta, de um salmo, de um evangelho ou de uma epístola. Como Boyce descreveu: "Ele começava no primeiro versículo do livro e tratava de seções contínuas, de quatro ou cinco versículos, até que chegava ao fim e, neste ponto, dava início a outro livro". Não havia uma palavra de discordância com as Escrituras, nem uma inferência depreciativa, nem uma fuga das dificuldades, embora ele evitasse as especulações infundadas: "Visto que revelar a mente do autor é a única tarefa do intérprete, ele erra o alvo ou, pelo menos, desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor... É... presunção e quase blasfêmia distorcer o significado das Escrituras, agindo sem o devido cuidado, como se isso fosse um jogo que estivéssemos jogando". Por isso, ele enfatizou: "O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio". Ele renunciou tudo que pudesse trazer-lhe notoriedade, colocando toda sua formação a serviço da fé cristã.
Não é possível descobrir nos sermões de Calvino o arranjo homilético segundo as normas atuais de pregação. Em muitos casos, Calvino tomava o texto, analisava-o e aplicava-o sucessivamente durante cerca de uma hora, o que conferia à mensagem um tom livre e informal.
Como Steven Lawson nota, a introdução do sermão era curta, sucinta e direta, consistindo de um breve comentário que lembrava a congregação o que a passagem anterior dizia,colocava os próximos versículos no contexto ou mostrava o argumento central da passagem pregada, relacionando-a ao contexto da estrutura do livro que estava sendo exposto.
Por isso, pode-se perceber que há uma ordem e um arranjo lógico e um desenvolvimento progressivo nas suas mensagens. Seus sermões não são exemplos de beleza e estilo por duas razões: ele pregava sem esboço, pois tinha de pregar quase diariamente; e tinha um profundo respeito para com a Palavra de Deus, a ponto de pensar que um estilo excessivamente elaborado poderia prejudicar a clareza da mensagem.
Neste caso, a pregação sem anotações era uma reação ao costume daquela época, quando os sermões eram lidos e se tornavam frios, sem entusiasmo e sem energia. Por outro lado, de acordo com Lawson, ainda que pregasse sem anotações, seus sermões testemunham um uso impressionante de frases curtas compostas de sujeito, verbo e predicado e fáceis de assimilar, palavras simples e expressões coloquiais, figuras de linguagem, perguntas retóricas, paráfrases e repetições, ironia mordaz e linguagem instigante.
Carl G. Kromminga afirmou que Calvino viveu e trabalhou como se estivesse na presença de Deus. Por isso, o empenho de Calvino era trazer os homens à presença de Deus.
Isto é ainda mais evidente em seus sermões, que eram sempre cruciais e decisivos. T. H. L. Parker escreveu: "A pregação expositiva consiste na explanação e aplicação de uma
passagem das Escrituras. Sem explanação, ela não é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação". Por isso, Calvino escreveu que os ouvintes do sermão deveriam cultivar um "desejo de obedecer a Deus de forma completa e incondicional". E acrescentou: "Não assistimos à pregação meramente para ouvir o que não sabemos, mas para sermos encorajados a fazer nossa obrigação".
Por isso, seus sermões partiam das Escrituras para a situação concreta e presente em Genebra, incluindo exortação pastoral, exame pessoal, repreensão amorosa, confrontação, usando muitas vezes pronomes na primeira pessoa do plural.
Nem sempre Calvino usou ilustrações, e, quando as usava, elas eram raramente de fora da Escritura. No entanto, ele estabelecia comparações com o quadro da vida diária para tornar bem accessível ao seu ouvinte a mensagem da Palavra de Deus. Kromminga aponta as metáforas, as exclamações e outros recursos da oratória que contribuíram para tornar efetiva a sua mensagem.
E, na conclusão de cada sermão, ele fazia primeiramente um resumo da verdade que explicara num parágrafo curto; depois, instava de forma direta seus ouvintes a que se submetessem ao Senhor, em arrependimento, obediência e humildade.
Finalmente, ele concluía com uma oração, confiando seu rebanho a Deus.
Precisa ser ressaltado que Calvino acreditava que Paulo havia providenciado um modelo para o ministério da Palavra, quando falou sobre como ele, Paulo, não cessava de admoestar tanto "publicamente" quanto de "casa em casa". Por ter uma verdadeira preocupação pastoral por aqueles para quem estava pregando, Calvino procurou visitá-los em seus lares. "O que quer que os outros pensem", Calvino escreveu, "não julgaremos o nosso ofício como algo que possui limites tão estreitos, que, terminado o sermão, possamos descansar achando que concluímos a nossa tarefa. Aqueles cujo sangue será requerido de nós, se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem receber cuidado mais íntimo e mais vigilante". Portanto, a pregação requer ser suplementada com uma entrevista pastoral. "Não é suficiente que, do púlpito, um pastor ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de acordo com a necessidade e as circunstâncias específicas de cada caso". Calvino insistiu que o pastor precisa ser um pai para cada membro da congregação.
O papel do pregador
O centro da atenção de Calvino era a vontade de Deus, era a revelação da face de Deus e o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Ou na pregação da mais profunda doutrina, ou em algum tema ligado à vida prática, Calvino chamava continuamente os seus ouvintes à face de Deus. Em 1537, aos 29 anos, num de seus primeiros livros, Breve Instrução Cristã, ele escreveu:
Como o Senhor desejou que tanto a Sua Palavra como as Suas ordenanças fossem dispensadas ou administradas por meio do ministério de homens, é necessário que haja pastores ordenados nas igrejas, para ensinarem ao povo a sã doutrina, pública e privadamente; administrarem as ordenanças e darem a todos o bom exemplo de uma vida pura e santa... Lembremo-nos, contudo, que a autoridade que as Escrituras atribuem aos pastores está plenamente contida nos limites do ministério da Palavra, pois o fato é que Cristo não deu esta autoridade a homens, e sim à Palavra da qual Ele faz esses homens servos.
Portanto, que os ministros da Palavra se disponham a fazer todas as coisas por meio dessa Palavra que eles foram designados a apresentar.
Que eles façam com que todos os poderes, todas as celebridades e todas as pessoas de alta posição no mundo se humilhem, a fim de obedecerem à majestade dessa Palavra.
Por meio dessa Palavra, que eles dêem ordens a todo o mundo, do maior ao menor; que edifiquem a casa de Cristo, ponham abaixo o reino de Satanás, pastoreiem as ovelhas, matem os lobos, instruam e encorajem os que se deixam ensinar; acusem, repreendam e convençam os rebeldes dos seus pecados – mas tudo pela Palavra de Deus.
Se alguma vez eles se apartarem dessa Palavra, para seguirem as fantasias e invenções da sua própria cabeça, daí em diante não devem ser recebidos como pastores; ao contrário, são lobos perniciosos que devem ser postos fora! Pois Cristo estabeleceu que não devemos dar ouvidos a ninguém, exceto àqueles que nos ensinam o que extraíram de Sua Palavra.
Não será disso que necessitamos com urgência hoje? Porventura, será que não precisamos hoje de uma revitalização da mensagem ao estilo de Calvino, de modo a colocar a comunidade cristã face a face com Deus?
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